quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Paciência sobrando? Eu compro!

Grande Austeróbilo*,

Eu não sou paciente porque sou gordo. E nem tento ser. Gosto de tudo apressado, atropelado, emocionante! Não consigo me conter. Isso tem muito a ver com a velha ansiedade, inimiga do gordo. Solução para um dia estressante de trabalho? Cervejinha com calabresa e fritas. Depressão? Sorvete com brigadeiro caseiro. Comemoração? Feijoada com picanha mal passada. Fantasia sexual? Leite condensado e vela quente. Sei que é outra história, mas é calórico, juro!

Impaciência está na moda. Acaba sendo até útil para várias coisas, especialmente quando o telemarketing liga:

“Bom dia, senhor. Eu estou tentando estar entrando em contato com o senhor para falar das maravilhas do...”
“Quanto custa?”
“Mas o senhor tem que saber das incríveis vantagens que...”
“Quanto?” “Por apenas R$59,90, eu...”
“Tá. Gostei do preço... O que é?”
“É uma ótima assina...”
“Quero não. Obrigado. Bom dia... Tun tun tun”

domingo, 25 de novembro de 2012

Porque eu não vou mais gostar de você

Nós não vamos gostar da gente por sermos bonitos. Na cidade dos belos rostos, pequenos lindos seios ou fartas amas há ruas inteiras. Repletas e sem sinalizações. Não nos faltam bocas a beijar. Não nos falta sexo. Mas queremos sempre mais. E essa necessidade é o que nos aproxima dos bichos. Nos torna irracionais. Reduz, diminui, carnifica. O tempo prova. Reprova. Nos põe à prova.

Eu não vou gostar de você porque você acredita. Acredita em príncipes encantados. Em quem possa te resgatar de sua própria ignorância. Em finais felizes, acasos, sem casos. Você não vai gostar de mim porque você acredita. Acredita que o amor tem que arrebatar de repente. Floresce entre inimigos e é proibido entre amigos. Que o seguro, e firme, e recorrente não te faz melhor do que a solidão o faria. Vai acreditando que, no fim das contas, sequer haveria solidão: eu estaria lá. Crente, pronto, certo, sem questões.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

"Eu te amo" não é "bom dia"

Grande Austeróbilo,

Eu não falo "te amo" porque sou gordo. E porque sou homem. E porque tenho noção. "Eu te amo" é um desses momentos solenes que só devem ser trazidos à tona quando temos a noção exata de que nossa vida está prestes a mudar. Em uma época onde tudo parece ser mais rápido e evoluído do que realmente é, temos a tendência de apressar as coisas, contornar ‘bons sensos’, vivenciarmos experiências cinematográficas (e imaginárias)...

Não há muito nessa vida que seja mais tocante/angustiante/desconcertante que a troca de olhares entre dois seres que se complementam. Em toda a sua condição de distintos, imperfeitos, inoportunos. No entanto, juntos, se faz evidente uma união que poucos compreendem. Observar esse tipo de comportamento, essa sorte, esse ideal, em si, já é dignificante. Vivenciá-lo, uma loteria.

domingo, 4 de novembro de 2012

Amor em tempos de What's App

Vale tudo. "Cutucar" como quem não quer nada na página alheia; recomendar seguidores às sextas, só para que com a insistência alguém note que se quer mais do que indica um bom "conteúdo". Vale também chegar chegando; beijar sem perguntar o nome; alisar a bunda; a mão naquilo, aquilo na mão, em plena boate. Vale se pegar no táxi e em casamento de pessoas nem tão amigas assim, na frente de todos os colegas de trabalho. Mas abrir o facebook alheio, nunca. Mexer no celular, então? Crime! Invasões de privacidade. Mesmo quando a privacidade, há tempos, não seja mais tão "privada".

Os contos de fadas são outros. As inocências também. As meninas de doze anos já dizem como imaginam que será o "primeiro casamento", enquanto experimentam namorar a melhor amiga por uma semana. Porque faz parte. Estamos tão preocupados em nos adaptar ao novo e às exigências que nos fazem, que estranhamos o natural: relacionamentos que começaram na adolescência e duram décadas, pessoas que trabalham apenas o necessário e não querem trocar de carro todos os anos, filhos que demonstram carinho por seus pais aos vinte, quarenta anos...

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Dois amigos e um restaurante

Eram dois amigos jantando em um restaurante, como qualquer dia ao acaso. Enchiam a cara com o whisky de rótulo verde, sem importar-se com preços. O jantar, lagostas e iguarias tailandesas, já havia sido acompanhado pelo vinho mais caro. Não estavam ali pela comida. Riram, ao lembrar-se de cada momento que tinham enfrentado juntos - pelos últimos o quê? dez anos? -. Brindavam, fazendo planos mirabolantes para as próximas semanas. Pular de bungee jump, saltar de asa delta, comprar um Aston Martin - usado, claro -, fazer sexo com três mulheres ao mesmo tempo - cada uma com uma cor de cabelo diferente - e fazer uma grande viagem de moto conhecendo, pelo menos, cinco estados. Por enquanto, seria o suficiente. Estranhou, quando, sem pedir, lhe serviram a sobremesa.

"Mas aqui não servem cartola!".
"Hoje servem", ouviu em resposta.

O doce de banana assada com canela e açúcar era uma herança gastronômica que havia herdado do falecido pai. Isso e a propensão para desenvolver o câncer em terceiro estágio com o qual tinha que conviver. Por pouco tempo, era verdade. Encarou o prato como quem enxerga em cada monte de açúcar, histórias engraçadas que em nada tinham a ver com o prenúncio de uma despedida. Olhou o rosto do amigo, que se esforçava para manter um sorriso fingido nos lábios. Praticamente o obrigara a estar nessa situação. Sentia-se mal por estar doente.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Somos tão jovens?

Todos os dias, acordamos cedo para ir ao trabalho. Em seguida, faculdade, especialização, yoga, o que seja. Atendemos a ligações do filho, esposa, pai, namorada, sogra, primo, chefe, colega pós-depressivo-pré-suicida... Pagamos conta de luz, água, telefone, internet, financiamente do carro, imóvel, aluguel, escola, fatura do psiquiatra. Dependem de nós, criança, colega de apartamento, de classe, de trabalho, namorada, amante, cachorro, gato, peixe, papagaio, síndico... Nos cobram eficiência, transparência, produtividade, pró-atividade, dinamismo, fluência, caridade, fé, interação, sociabilidade, senso de comunidade, permissividade, honestidade, até com a idade. Nos querem respostas, certezas, verdades...

domingo, 23 de setembro de 2012

A óbvia falta que você me faz...

Eu alucino ao sentir o teu cheiro. Sem mais. Não há fragância que mais inebrie, que mais agrade... Sua essência não é envasada. Eu abomino tua distância. Amaldiçoo cada quilômetro que me separa de teu abraço. Os caracteres não me bastam. O som do teu riso tem que arrepiar o interior de meus ouvidos. E não há telefonia tecnológica o bastante para reproduzir, sem o amargor metálico, toda a doçura que tua voz despeja.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Como sobreviver a uma mulher na TPM

Começa com uma paciência por nada. As cócegas se vão e em vez da risadinha gostosa, um empurrãozinho pedindo que você pare. Ou houve problemas no trabalho ou ela está chegando. Você inventa de cozinhar e ela diz que não está com fome. Pede para abaixar o som do carro, que está com dor de cabeça. Diz o mesmo quando você, todo se querendo, a beija no pescoço e fala como ela está cheirosa. Provavelmente você vai ouvir algo sobre o dia insuportável que demorou a passar e o quão cansada ela está. Pronto. Ela está presente.

domingo, 16 de setembro de 2012

Estamos todos doentes

De alguma forma, eu sempre soube que estava doente. Não seria necessário sentir dor para compreender. Algo parecia incompleto, como se a estrada fosse feita para não ser completada. A sensação era de que seria uma questão de tempo até que as habilidades deixassem sua casa e tudo se tornasse mais difícil. Eu fechava os olhos, seguia em frente, como se nada, de fato estivesse acontecendo e, então, trabalhava. Como se não houvesse outra saída.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Toda "primeira vez" faz diferença no resto da vida de toda e qualquer pessoa

Lembrar de nossas primeiras vezes deveria ser obrigação verificada em cada check-up médico. É o tipo de informação que nos faz melhores, mais humanos. Várias primeiras vezes. De vários tipos. Poderiam ser subtraídos dias de vida de cada homem que dissesse que lembrar de outras primeiras vezes não importa. Faço questão. Meu primeiro beijo de mentira foi no colégio. Daqueles que se finge acidente. Bate e volta, sorri amarelo, como se não tivesse sido planejado, fechando os olhos torcendo para que o rosto não seja acertado.

O de verdade veio quase um ano depois. Na época em que ainda se dizia "só vale se for de língua" e senti-la era um prêmio que tinha que ser compartilhado com os amigos. Claro, posando como se fosse nada demais, como se aquilo fizesse parte do cotidiano. Ela não sabia que era a primeira vez que eu beijava. Foi na velha brincadeira (e que Deus a abençoe) da "salada mista", sem a qual a vida seria bem mais difícil para quem se derretia ao tentar falar com uma menina que se começa a querer mais que amiga. O "durante" foi pura questão de logística: "quantos segundos fico nessa posição? vou pra lá? Mais ou menos? O que faço com essa mão?". A tortura da inexperiência. Alguns anos depois, quando o assunto foi sexo, a tragédia só não se repetir pela opção de ficar bêbado, se juntar a quem não se gostava muito e tentar repetir o visto em filmes proibidos. Claro, deixando muito a desejar. É difícil lidar com a vergonha de quando não se sabe o que está fazendo.

domingo, 19 de agosto de 2012

Romance é Guerra e é paz. Amor é tecno-brega-pop-rock

Romance é Guerra. Do tipo que não te deixa dormir, numa conversa ou numa troca; que quebra seus móveis, em momentos deliciosos ou simplesmente raivosos; que requer estratégia, numa conversa ou numa conquista. Romance é Paz. Daquela que invade o peito sempre que toca o telefone, chega e-mail, soa a campainha. Daquela que dá uma certeza completamente, e por opção, ilógica, de que tudo vai simplesmente dar certo.

domingo, 24 de junho de 2012

Caracteres invisíveis de uma crônica inexistente

Encarou a folha de papel em branco. Há quanto tempo não pegava numa caneta para obrigá-la a desafiar a superfície convidativa que apenas os derivados da celulose oferecem? Trocou, como quase todo mundo, o cheiro do livro novo e do caderno pouco rabiscado pelas telas geladas e impessoais. Sem capas coloridas, dedicatórias nas folhas de rosto, recados sacanas nas contracapas...

domingo, 17 de junho de 2012

Amigo: aquilo que não se vende, merece ou esquece

Grande Austeróbilo*,

Eu não tenho muitos amigos porque sou gordo. Gordo deve ser seletivo, para ter uma justificativa quando faltar companhia. Isso não quer dizer que sou antipático. Sempre fiz do tipo amigão, que conhece todo mundo. Eu seria uma anomalia em filmes americanos de escolas, em que o gordo chama mais atenção que o capitão de futebol americano (ainda que com menos líderes de torcida). Mas amigo, mesmo, é coisa rara.

sábado, 16 de junho de 2012

Sorrir é apaixonar-se dia a dia por velhos sabores

Poucos momentos de felicidades marcam definitivamente sua vida. Raros são os sorrisos que poderiam ser congelados, praticamente tão emoldurados em nossas paredes quanto em nossas memórias. A tristeza, essa ingrata, é a inconveniente visita da sogra, que chega sem se anunciar e quando menos se deseja. Mas esses marcadores de capítulos de nossas vidas são repentinos como súbitas crises de riso. Aparecem e vão embora tão rápido que só são realmente percebidos tempos depois.

domingo, 27 de maio de 2012

O que você precisa (e nunca vai) saber sobre o amor...


Quando tem início o amor? Gostaria de saber não em termos técnicos, abstratos ou científicos, marcado por datas e similitudes. Quero saber é quando o gostar de passar cada segundo junto vira uma impossibilidade de estar separado, quando a saudade transpassa o sentimendo incômodo, aninhado sob o peito, e se mostra uma dor física, que indispõe, caleja, ridiculariza. Quando o olhar muda do 'até amanhã' para o 'não me deixe', aconteça o que acontecer?

Não ousaria sequer tentar determinar respostas. Mas arrisco dizer que esse momento de transição, que passa desapercebido, sempre se apresenta. Pode ser quando ele, sentindo a dormência do braço que acalanta os sonhos dela, ignora o desnecessário para não pertubar seu sono. Quando rejeita o terceiro choppe no velho bar da sexta, com os amigos de sempre, apenas para que tenha a oportunidade de vê-la enrubescer enquanto é observada escovando os dentes e prendendo os cabelos, pouco antes de se deitar.

Quem diz não gostar de forró, esteja certo, é por não saber dançar...


Grande Austeróbilo*,
Eu não danço forró porque sou gordo. Nunca soube como. Coordenação das pernas só funciona se for para correr atrás de algo mais saboroso em liquidação. Mas também não gosto muito de forró. O bater do triângulo ao lado da sanfona nunca me convenceu como arte.

Mas esse é o papo de todo e qualquer cidadão que não saiba dançar: responde 'não gosto'. A verdade é que todos gostamos de forró. Por nós, dançaríamos todos os dias e exterminaríamos toda e qualquer banda de axé. Nada melhor que dançar inocentemente a dança safada do sertão, sentindo cheiro do suor do cangote das interioranas e olhando o facão do pai dela com o rabo do olho. Que graça tem em 'procurar Dalila', quando Ana, Maria e Joana tão ali, coxa com coxa?

domingo, 6 de maio de 2012

Assuma seu defeito capital, hipócrita!

Resolução de final de ano: mudar. Plano de toda segunda-feira: começar a mudar. Defeito capital? Completa incapacidade de mudança. A verdade é que sempre queremos nos sentir outras pessoas, mudar, sumir... Como se toda alteração que realmente valesse a pena fosse feita de uma decisão, uma batida de pé, uma explosão que, do dia para a noite, se apresenta como a solução de todos os problemas.

Um dos vários tristes fins de todos nós

Apenas uma sensação pode ter a dimensão equiparada à paixão, em sua forma mais simples e sincera, e essa é ter o coração partido. Nos dois casos, o estômago revira pelo avesso, a boca seca, o coração desacelera por segundos que parecem horas, insistindo em vir à boca. Em ambas as situações, há um grito silenciado em uma covarde garganta, um suor frio que determina a quantidade de horas de sono que serão conquistadas no dia a dia de quem tenta seguir em frente com a própria vida. A diferença está no cheiro de cada sensação. Enquanto uma nos seduz com o aroma de relva fresca e molhada, que convida e acaricia nas horas menos esperadas, outra se mostra terra seca e pedregosa, se fazendo fumaça, do tipo que dificulta avistar todo e qualquer bom momento de um passado bem recente.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Você merece mais do que 'eu'

Eu não sou o seu príncipe encantado. A verdade é que nunca estive nem perto de sê-lo. Você deveria estar com alguém mais carinhoso que eu, que apreciasse cada passada de mão em seus cabelos e ligasse duas vezes ao dia somente para perguntar como está sendo o seu dia. Ou simplesmente para dizer a verdade: que tem saudades.

Você merece mais do que eu. Merece flores no final de uma tarde estressante e massagem nos pés ao chegar em casa. Merece o beijo mordido a cada instante, como se em uma despedida e o toque firme que te tire o fôlego até que você chegue lá. E sempre. E tanto. E mais.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Este não é mais um conto sobre sexo

Deitaram exaustos, com o perfume característico da humanidade que os fazia perfeitos animais. O riso estampado no rosto o convencera que atenção e dedicação faziam diferença. Sempre. Os pedaços de palavras ainda se confundiam com os suspiros profundos que, até então, bastavam à comunicação.

O salgado de seu sabor suado tomou-lhe os lábios em um gesto de cumplicidade simples que há muito desconhecia. Não era somente mais uma. Nem apenas cabelos, decotes e maquiagens. Era, sim, uma junção de imperfeitos contrastes e bagunças em uma proporção mais que perfeita.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Os 10 Mandamentos da Gula

Grande Austeróbilo,

Eu gosto de misturar de tudo na cozinha porque sou gordo. Adoro salgados, mas sou fissurado em doces. Troco uma refeição inteira pelas calorias equivalentes de uma colherzinha de sorvete light ou de biscoito recheado.

Juliana não é Maria e nem é santa, porque sabe amar...

Quem nunca amou uma Juliana, certamente não conhece muita gente. Juliana tem uma doçura que não se conta, não se espalha, não se mede. É numerosa tal qual, um dia, o foi Maria. Justamente por isso, encanta e domina Josés e não Josés. Quem conhece uma Juliana a ama ou a detesta. Não há meios termos, eufemismos, delicadezas. Ela marca a vida de um homem com tanto empenho e destreza quanto se o fizesse querendo destrui-lo.
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