Deitaram exaustos, com o perfume característico da humanidade que os fazia perfeitos animais. O riso estampado no rosto o convencera que atenção e dedicação faziam diferença. Sempre. Os pedaços de palavras ainda se confundiam com os suspiros profundos que, até então, bastavam à comunicação.
O salgado de seu sabor suado tomou-lhe os lábios em um gesto de cumplicidade simples que há muito desconhecia. Não era somente mais uma. Nem apenas cabelos, decotes e maquiagens. Era, sim, uma junção de imperfeitos contrastes e bagunças em uma proporção mais que perfeita.
Sentiu as mãos pequenas a tocarem seu peitoral. Mais como quem pede que a tome de assalto que a implorar pela proteção de um abraço generoso. As costas dela a massagear suas mãos. Suas magnéticas ancas o convidando a sentir-se em casa. Observou seu rosto, então sem um rastro sequer de quaisquer pinturas ou remendos, e contemplou a perfeição de uma naturalidade que tantas insistem em privar a vista.
Entre os movimentos compassados, ouviu o próprio nome e as largas costas a arranharem as unhas dela, como que marcando um território com sua própria pele. Ouvidos a suspirar em suas bocas. Lençóis a amassar seus corpos. Cada tímida sarda a contar-lhe os dedos. Um desespero gritado a fugir de suas frágeis carnes.
Acompanhou cada momento que se seguiu até a despedida de seus olhos. E ficou ali por longos minutos, estático. Não sabia quem seriam quando os anos insistissem em alterar-lhe os humores, carências e personalidades. Apenas apreciava com atenção. E, então, poeta frustrado, na falta de melhores palavras ou maiores promessas, aproveita a segura distância dos covardes e confessa: "que a rouquidão do silêncio de teu sono seja a canção que sempre embale meu eterno recital".
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