domingo, 4 de novembro de 2012

Amor em tempos de What's App

Vale tudo. "Cutucar" como quem não quer nada na página alheia; recomendar seguidores às sextas, só para que com a insistência alguém note que se quer mais do que indica um bom "conteúdo". Vale também chegar chegando; beijar sem perguntar o nome; alisar a bunda; a mão naquilo, aquilo na mão, em plena boate. Vale se pegar no táxi e em casamento de pessoas nem tão amigas assim, na frente de todos os colegas de trabalho. Mas abrir o facebook alheio, nunca. Mexer no celular, então? Crime! Invasões de privacidade. Mesmo quando a privacidade, há tempos, não seja mais tão "privada".

Os contos de fadas são outros. As inocências também. As meninas de doze anos já dizem como imaginam que será o "primeiro casamento", enquanto experimentam namorar a melhor amiga por uma semana. Porque faz parte. Estamos tão preocupados em nos adaptar ao novo e às exigências que nos fazem, que estranhamos o natural: relacionamentos que começaram na adolescência e duram décadas, pessoas que trabalham apenas o necessário e não querem trocar de carro todos os anos, filhos que demonstram carinho por seus pais aos vinte, quarenta anos...

É um sintoma de toda a geração. Estamos cada vez mais próximos, para nos mantermos distantes. A tecnologia que nos faz resistir ao banzo e à saudade insustentável é a mesma que ergue muros contra quem está ao lado. E ficar "longe", proteger-se, é o mesmo que estar com "tudo e todos". Uma ode ao "não apego". A lógica libertária de uma rebeldia jovem, sem causas, pretensões ou direcionamentos. Aquilo que a sapiência culta de minha avó classificaria por "cabra-safadice".

Curtimos a noite, mesmo que não tenhamos ninguém para compartilhá-la. Endossamos os 140 caracteres de qualquer sem caráter. Exibimos, insistentemente, o que (e quem) comemos em fotografias cheias de filtros para nos convencermos que seguimos um caminho certo, direito e feliz. Adicionamos quatrocentos novos amigos por ano, quando conhecemos vinte e confiamos em... um? dois? Estamos online 24 horas sem sequer estarmos dispostos a qualquer diálogo. Mandamos mensagem em aplicativos só para ver quanto tempo a pessoa passa para responder depois que a leu. Como se isso importasse. Como se nos dissesse algo.

E nos escondemos. Saímos de um relacionamento deixando para trás a sanidade. Bebendo o mundo e namorando todas as garrafas que encontramos. Esquecendo as prudências e os celulares. Nos mantemos em relacionamentos por fachada, por carência, por medo ou simplesmente por acharmos que não há ninguém melhor no mundo que a pessoa com quem se esteve os últimos anos. E caso haja, dará tanto trabalho recomeçar! E o que os pais irão dizer? Trabalhamos como burros em busca do alimento, mesmo quando a comida não falta. Mas também não basta. Queremos o caviar. Numa mesa em Paris. E se não for a dois, que pelo menos encontremos alguém por lá! 

O vazio que sentimos, meus caros, é fruto de nossa incompetência para entender que sempre buscamos os pares. Não nos bastamos. Sozinhos, somos apenas o que somos. Juntos, podemos ser quem, um dia, desejamos ser. Curtindo e compartilhando.

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