Apenas uma sensação pode ter a dimensão equiparada à paixão, em sua forma mais simples e sincera, e essa é ter o coração partido. Nos dois casos, o estômago revira pelo avesso, a boca seca, o coração desacelera por segundos que parecem horas, insistindo em vir à boca. Em ambas as situações, há um grito silenciado em uma covarde garganta, um suor frio que determina a quantidade de horas de sono que serão conquistadas no dia a dia de quem tenta seguir em frente com a própria vida. A diferença está no cheiro de cada sensação. Enquanto uma nos seduz com o aroma de relva fresca e molhada, que convida e acaricia nas horas menos esperadas, outra se mostra terra seca e pedregosa, se fazendo fumaça, do tipo que dificulta avistar todo e qualquer bom momento de um passado bem recente.
Talvez ainda não haja registros de dor mais incapacitante e violenta. Não. Ter o coração partido não é o mesmo que ser dispensado ou uma inabilidade de lidar com rejeição. Também não é um prenúncio de um final de mundo que sabemos independer de nossas falíveis experiências. A profundidade da ferida não se dá pela relevância que ela terá no resto de sua vida, mas no reconhecimento de que a dor foi causada diretamente por alguém com quem se pretendia construir uma história. E que esta mesma história deixará de ser escrita, por decisões que fogem aos seus argumentos e influências.
As mais diversas canções já foram escritas sobre o momento em que tudo se parte. É como cristal que se quebra em uma terra de vidros, lamentável, ainda que irresistivelmente belo. Poetas e filósofos já se debruçaram sobre os dias em que as palavras falham e nem mesmo as lágrimas, secas, têm coragem de te fazer companhia. Há um surdo silêncio que acompanha cada 'Bom Dia', um xingamento gratuito em cada educado riso de canto de boca...
A verdade é que nunca deixarão de falar sobre corações partidos. Há uma necessidade implícita de convivermos e revivermos nossas não tão nobres tragédias pessoais. Há um medo de uma repetição que perigosamente busca se apresentar em cada esquina. Há um anseio de quem 'desta vez' seja diferente. E um conforto em um sofrimento que não vai embora, em uma espécie de falso consolo de que se sofre 'agora', o que nunca mais se pretende experimentar.
É somente depois de tudo: bebedeiras, curativos, desabafos, revoltas, negações... Somente depois de se fazer humano, é possível compreender que só sente o coração partido quem tem esperança de que, em algum momento, tudo seja deixado para trás e seja possível esquecer. Os demais simplesmente vivem com a certeza simples de que ter o coração partido nada mais é que sentir o amargo da semente do que se espera ser a penúltima das frutas.
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