Grande Austeróbilo,
Eu não falo "te amo" porque sou gordo. E porque sou homem. E porque tenho noção. "Eu te amo" é um desses momentos solenes que só devem ser trazidos à tona quando temos a noção exata de que nossa vida está prestes a mudar. Em uma época onde tudo parece ser mais rápido e evoluído do que realmente é, temos a tendência de apressar as coisas, contornar ‘bons sensos’, vivenciarmos experiências cinematográficas (e imaginárias)...
Não há muito nessa vida que seja mais tocante/angustiante/desconcertante que a troca de olhares entre dois seres que se complementam. Em toda a sua condição de distintos, imperfeitos, inoportunos. No entanto, juntos, se faz evidente uma união que poucos compreendem. Observar esse tipo de comportamento, essa sorte, esse ideal, em si, já é dignificante. Vivenciá-lo, uma loteria.
Não importa quantos relacionamentos tivemos na vida. Reconhecemos aquela pessoa que mais nos mexeu e marcou. Aquela que ainda vai nos procurar à noite, nos sonhos mais (ou menos) inocentes. Não há coisas como "o grande amor". Amor é grande por definição. As demais experiências que tivemos não passaram de paixões acaloradas, carnais, brutais, infelizes, comprometidas, infantis ou inesquecíveis. Mas paixões. O amor nos consome. Faz doer o peito quando distantes. Quando próximos, também. Dá medo de perder um ao outro. Amor é banal, sentimental, abobalhado... Daquele tipo em que se acha belo ou engraçado o despentear natural dos cabelos após o sono, o primeiro hálito matinal e as belezas, não tão perfeitas, mais claras à luz do dia.
Buscaremos o amor enquanto estivermos vivos. Quer admitamos ou não. Tudo tende aos pares. Nossas mãos, narinas, olhos e ouvidos estão aí para provar que nossas bocas e sexos buscam incessantes complementos. A verdade é que poucos os encontraremos. Poucos têm essa sorte. A maior parte de seus conhecidos encontrarão, nas paixões duradouras, corretas ou convenientes, relacionamentos que durarão muitos anos. Talvez uma vida toda. E viverão bem. Talvez felizes, até. Não há nada de mal nisso. A sorte foi criada para pertencer a poucos, caso contrário, não faria sentido.
O amor é a centelha que nos mantém, juntos, à cama, como animais insaciáveis. Ele também mantém acesa a libido nos anos mais ‘ingratos’ de nossa "pré-despedida". O amor é a beleza que atrai na juventude e o conteúdo que nos mantém interessados até o fim da vida. Amor é tecnologia, didática, kamasutra, evolução...
Alguns chegam a dizer que felizes são os que não amam. Estes, nunca amaram. Se o fizessem, saberiam que a dor e o gozo de um sentimento, tão grande quanto vidas inteiras, não se resumem a apenas um lado. Saberiam que, tal qual a vida, o amor é feito de construções, decepções, redenções, abdicações e desculpas. Muitas desculpas. Inúmeras, porém sinceras.
Não diria "eu te amo" para afagar ouvidos. Não o diria, também, como uma prova sonora e pessoal de sensação. O amor não é expresso na vontade de não sair da cama por se encontrar desacompanhado. Amor é a certeza de que, se fosse possível, bastaria um corpo quente por sobre seu peito, envolvido em seus braços, e nada mais. As palavras são opcionais.
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