domingo, 7 de abril de 2013

A verdade sobre as mentiras nossas de cada dia


Há poucas coisas nesse mundo tão danosas quanto uma mentira. Sabe o que é engraçado? Somos programados, desde cedo, a achar a mentira uma coisa feia e errada, mas somos incentivados a todo momento a contá-las. Ou você, criança, nunca recebeu a ordem de dizer que gostou de um presente e agradecer, mesmo quando sua vontade é dizer "que merda" e jogar o boneco do Giban longe, quando tudo que você queria era um Power Ranger que morfava? Em pouco tempo, vem o peso do pecado. Cada falso testemunho como uma assinatura antecipada de uma vida de bronzeado ardente em um mármore desagradável ao lado do Zé Capeta. Um pouco mais de remorso em cada "nunca mais eu bebo", que, sabemos, não se concretiza nunca...

A questão da mentira é que ela é sedutora. A danada anda com os vestidinhos mais curtos sempre a deixar um cheiro doce em nossa face, oferecendo o caminho mais curto e fácil para tudo. Ela bate ponto, junto com você, ao adentrar cada área de sua vida, diariamente. No trabalho: "foi o trânsito!". Na escola: "esqueci o caderno, mas o trabalho está pronto!". Com a namorada: "essa roupa não te deixa gorda". Com a esposa: "estou sem dinheiro, amor". Na casa da sogra: "O molho irlandês acabou, mas posso ir comprar lá na zona norte, rapidinho, depois volto".

Somos levados a crer que as pequenas mentiras contadas no dia a dia são desenhadas para facilitar nossas vidas. Que contá-las significa machucar ninguém e não perder tempo com as consequências de dizer o que deveria ser dito. E a partir daí surgem os celulares que descarregaram, as mulheres que você nem sequer chegaram a notar, os elogios a certas roupas e comidas, os risos a piadas e comentários de um chefe. Somos todos prostitutos de nossas próprias palavras. Nos vendemos ao conforto de não ter que esquentar as cabeças com banalidades. Somos agentes do hiperreal, fascinados pela ficção.

O incômodo da mentira não é a verdade, mas a curiosidade. É essa assassina de gatos que nos faz revirar bolsos, xeretar mensagens nos celulares e redes sociais, checar a roupa suja. Ela que nos obriga a conferir os extratos, perguntar duas vezes a mesma coisa, ligar, perguntar e depois dizer "mas não conta que eu perguntei nada, tá?". É a certeza de que somos todos construídos e mantidos por mentiras que nos faz buscar pelas falhas. É dizer que se quer estar errado, mesmo sabendo que quem procura acha. E quando ela se revela diante de nossos olhos, nas traições mais esperadas, nos deslizes mais compreensíveis, nos comportamentos mais clichês... Aí é que a mentira nos revolta, nos fere e maltrata. Ela arde, esfaqueia e faz sangrar. Atira vasos, esmurra as paredes, enche a cara num bar, pedindo para tocarem Reginaldo Rossi.

E, no entanto, nos fazemos vigilantes da verdade. Somos todos honestos, retos e cheios de honra. Subimos na vida sem derrubar ninguém, somos sempre fiéis, os melhores filhos, amigos e namorados. Admiramos ao próximo, quando, secretamente, queremos estar no lugar dele. Porque nenhum de nós presta. E é admitindo que somos lixos em busca de catadores que nos acolham, que nos fazemos pessoas melhores. É deixando a putaria da faceira mentira e investindo no casamento com a verdade que nos fazemos gente. É buscando sermos melhores, sem nos acharmos melhores, que tentamos deixar para trás antigas vidas. Enquanto isso, lustramos nossas caras de um bom e confiável mogno. Condenamos ao outro por seus deslizes, na falsa certeza de uma superioridade que apenas nos faz medíocres. Seguimos dizendo "bom dia" a quem desejamos "boa queda" e, no apagar das luzes e esperanças de nossa própria histórias, responderemos, no automático, o velho e fácil "tudo bem".

5 comentários:

  1. Como sempre... fui ao passado, mergulhei no presente, e estou repensando o futuro... "MENTIRAS", viver sem elas, não sei se é possível, conviver com elas, será a única solução??? Sigo pensando.....

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  2. Arrasando como sempre! Uma verdade nua e crua, típica do Dr. Ed Wanderley. Parabéns por todas as palavras e verdades jogadas na cara da gente, essa sociedade hipócrita e dissimulada que segue vigindo e mentido discaradamente, e achando que fala a verdade! É isso Dr, show de bola :)

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  3. Errei umas palavras, é fingindo* e descaradamente* I'm sorry :)

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Muito bom o texto Ed, é dessa forma que acabamos nos vendendo para sermos apenas sociáveis. Tu sabe que tu é muito meu amigo né? Gosto muito de tu! KKKKKKKKKKKKKKKKK
    Abraços cara.

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