quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Toda "primeira vez" faz diferença no resto da vida de toda e qualquer pessoa

Lembrar de nossas primeiras vezes deveria ser obrigação verificada em cada check-up médico. É o tipo de informação que nos faz melhores, mais humanos. Várias primeiras vezes. De vários tipos. Poderiam ser subtraídos dias de vida de cada homem que dissesse que lembrar de outras primeiras vezes não importa. Faço questão. Meu primeiro beijo de mentira foi no colégio. Daqueles que se finge acidente. Bate e volta, sorri amarelo, como se não tivesse sido planejado, fechando os olhos torcendo para que o rosto não seja acertado.

O de verdade veio quase um ano depois. Na época em que ainda se dizia "só vale se for de língua" e senti-la era um prêmio que tinha que ser compartilhado com os amigos. Claro, posando como se fosse nada demais, como se aquilo fizesse parte do cotidiano. Ela não sabia que era a primeira vez que eu beijava. Foi na velha brincadeira (e que Deus a abençoe) da "salada mista", sem a qual a vida seria bem mais difícil para quem se derretia ao tentar falar com uma menina que se começa a querer mais que amiga. O "durante" foi pura questão de logística: "quantos segundos fico nessa posição? vou pra lá? Mais ou menos? O que faço com essa mão?". A tortura da inexperiência. Alguns anos depois, quando o assunto foi sexo, a tragédia só não se repetir pela opção de ficar bêbado, se juntar a quem não se gostava muito e tentar repetir o visto em filmes proibidos. Claro, deixando muito a desejar. É difícil lidar com a vergonha de quando não se sabe o que está fazendo.

E "elas" continuaram. Não faz mais que três anos que eu tomei meu primeiro banho de chuva, de roupas, de propósito. Aquela vontade que você tem quando assiste a filmes e nunca concretiza. Daquele tipo que muita gente nunca fez. No mesmo dia, experimentei meu primeiro cigarro. A fumaça não aplacou uma angústia insistente que decidiu agarrar meus pensamentos naquela noite. A chuva sim. Levou com ela os pensamentos mórbidos e arrancou sorrisos como há tempos não fazia. Eu ria. Gargalhava segundos após ver o rosto de algumas pessoas que me viam de longe, como se fosse louco. Ser louco parecia uma boa opção. Lembro da primeira vez que andei de avião. Três pacotes de chiclete no bolso. Lera que goma de mascar ajudava a proteger os ouvidos da pressão. Ela quase não dura a decolagem. Ver as nuvens de cima, pertinho, sentindo o frio da janela contra o rosto... Às vezes fazemos coisas incríveis tantas vezes que toda a sua maravilha se vai com a rotina. Assim o é com a vida, o trabalho, o relacionamento...

Você cresce e as primeiras vezes vão ficando mais raras e bem menos universais. A primeira vez que você vê o sol nascer na praia depois de uma divertida e "regada" noite. Aquela vez em que você pede demissão dizendo que não precisa daquele trabalho e se sente o máximo. Outra, que você sai na capa de um jornal. E a primeira vez que você compra um carro? Com o tempo, se percebe que lembrar das primeiras vezes é também uma forma de aprender a como viver a própria vida. Nos tempos bons e nos ruins. Ou você não lembra a primeira vez que teve que conferir o resultado de um teste de gravidez? Do primeiro exame de HIV? Do primeiro acidente de carro? Da primeira vez que traiu ou descobriu ter sido traído? Da primeira rejeição de quem muito se queria? Da primeira vez que se separar doeu mais que a primeira fratura?

Com o tempo, tudo se torna lembrança. Informações básicas de uma vida que não se permite cometer os mesmos erros e se busca refazer as receitas que deram certo. Chega a hora em que é preciso inventar. Ver o mundo como um eterno recomeço. Primeira vez que se relê seu livro preferido, primeira viagem de volta à terra natal depois que se deixa a casa para trás... Porque felicidade nada mais é que começar do zero várias vezes. Tornar o hoje, o primeiro grande dia do "daqui pra frente". É tornar "primeira" toda e qualquer ação que valha a pena ser feita, experiência que valha ser vivida, riso que valha ser distribuído. Primeiramente. Até o último de nossos primeiros dias.


4 comentários:

  1. Começar a gerenciar um obra!

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  2. Não posso negar que lembrei de grandes momentos que até então estavam esquecidos... Adorei o texto! Beijinho

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  3. "A primeira vez" passa tão despercebido que nem lembro o que fiz "pela primeira vez" ultimamente. Ah! Lembrei! Comprar uma garrafa de vinho. Vou explicar: eu não bebo nada alcoólico, sempre condenei bebidas e sou traumatizado com isso. Pois não é que o mundo dá voltas e comecei a apreciar vinhos (sul-africanos, apenas). Fui à uma loja e comprei. Sem medo. Sem pudor! Mesmo assim teve alguém que disse bem no meu ouvido: "Quem te viu, quem te vê, Segundo".

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  4. Não me lembro de muitas primeiras vezes... Isso é normal??? Lembro-me do meu primeiro beijo numa mulher, mas do primeiro beijo num homem... Lembro-me da minha primeira transa com uma mulher, mas me lembro MUITO VAGAMENTE da primeira vez que fui pra cama com um cara... Isso me faz mais ou menos gay??? ahahahahahahah

    Posso dizer que minha primeira vez mais marcantes foi qnd chorei ao ver o filme... eu pensava: "você já é grande... não pode se emocionar... chorar é para as meninas..."

    Mas, q louco... chorei... e lavei minha alma... e, hoje, sou um dos maiores chorões que conheço... =)

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