Em toda e qualquer cidade do Brasil, é fácil identificar uma boa opção de bar para freqüentar à noite. Não tenha dúvidas que algumas características são suficientes para concluir o nível de qualidade do estabelecimento. As mesmas são utilizadas até pela Veja para identificar aquele ‘o melhor da cidade’ (ou achava que era só jabá?).
Barzinho bom é aquele que os melhores petiscos nunca estão presentes no menu. Não por esquecimento, mas porque no cardápio só deve constar o trivial, o que todo mundo tem, para que, assim, a concorrência não descubra rapidamente os segredos do local. O segredo sempre deve vir da boca do garçom ou de um freqüentador mais antigo, para manter a tradição.
Barzinho bom é aquele que você nunca chega no horário certo do início da música ao vivo. Pode notar, artista de bar não tem abertura de show. Não tem boa noite. Ou você chega e eles já estão no melhor da apresentação, ou você vai embora sem que eles tenham começado a tocar. É um jogo sádico de deixar o cliente querendo ou pedindo mais para garantir a sua volta.
Bom mesmo é aquele bar em que o garçom no primeiro dia já se torna seu amigo. Ele identifica, de cara, a dor de corno, para oferecer o olhar compadecido. Quando lida com um daqueles casais em êxtase, sabe aproveitar bem a hora de pedir uma bicadinha, meio escondida, o combustível para mais uma noite de trabalho. E ele convence a todos da qualidade do lugar, para que você finja não perceber que os 10% estão incluídos no preço do cardápio e ele ainda cobre a taxa adicional ao fim da conta. Porque é fato: barzinho bom é sempre caro, mas você paga o preço, volta e recomenda.
Garçom de barzinho bom é um cara trabalhador, sempre disposto a ajudar. Tanto que ele nunca simplesmente leva um bilhete a uma mesa vizinha, ele vai até a pessoa com um semi-sorriso no rosto, fala daquele jeito de quem sabe que vai dar em algo e ainda adiciona um comentário inocente e sem ensaios sobre a qualidade de seu carro, emprego ou última namorada.
Barzinho bom nunca tem estacionamento. Está sempre lotado. Você deve estacionar uma rua antes e ser abordado por flanelinhas especializados em atender freqüentadores de bons barzinhos, que não pagam mais que R$2,00 pelo aluguel da rua deles. Com tanta gente, é bem óbvio que no local nunca haverá lugar suficiente para todos os seus convidados. Sempre vai rolar aquele aperto, com uma das pernas da mesa comprimindo seu saco, enquanto um casal, de longe, ocupa duas mesas. O calor humano serve para animar o ambiente e manter o caldinho sempre no ponto.
Nesses lugares, não adianta reservar mesa. A reserva sempre expira dez minutos antes de sua chegada. Senão, tem sempre menos mesa do que foi pedido. Lei da oferta e da procura, fazer? Barzinho bom é aquele que tem club. Sim, club. De vodka, de whisky. É uma estratégia milenar de Sun Tzu. “Quanto mais bêbado estiver o alvo, mais benefícios oferece”.
Em caso da estratégia não funcionar, o plano ‘b’, certamente funciona: “Caso ele não fique bêbado e deixe a área de combate. Ele voltará em outra ocasião trazendo mais soldados para beber na mesma fonte”. Nessa ocasião, é sempre a oportunidade única que os garçons têm de “matar dois coelhos com uma embriagada só”. E um bom garçom nunca deixa de garantir um outro ‘club’ para manter o ciclo, literalmente vicioso.
Sabe aquela história que você leva anos para construir uma confiança e dias para perdê-la? Com barzinho bom, basta uma frase (ou uma barata num petisco). Barzinho bom nunca, sob nenhuma hipótese, deixa a amizade se confundir com libertinagem. Sim, os garçons, esses safados, devem se manter em suas alas e nós, clientes, ‘na da gente’. Onde já se viu? Nunca, de forma alguma, em nenhuma parte do planeta, ninguém chega junto de um cliente dizendo “e aí, Wanderley, já está de namorada nova, rapaz? Não sossega mesmo!” e, aproveitando o sorriso generalizado completa, em direção a sua acompanhante “gente boa, esse sujeito. Só traz alegria para esse lugar. Bebe que é uma beleza e tá sempre por aqui. Vê se consegue segurar, que esse vale a pena”.
Barzinho bom não deve ter intenção, apenas ação e discrição. Antes corneado pela mulher amada que traído pela língua de um garçom bêbado. Confiança de mulher se reconquista no fogão, nos filhos ou na cama. Querer reconquistar confiança de cliente e ainda trazer conta já é pedir demais...
Nenhum comentário:
Postar um comentário