quinta-feira, 14 de abril de 2011

Cinema: Tudo é para rir (se conseguir)

Já não vou mais ao cinema como antes. Anos atrás ia como uma forma de ser rebelde mesmo, nadar contra a maré. Enquanto todos assistiam aos filmes na tela do computador de casa ou com um DVD de esquina, eu estava nas grandes salas de projeção marcando presença e levantando bandeira contra a pirataria. Hoje, não tenho mais paciência. Isso por conta daquelas insuportáveis animações que passa todas as vezes antes do filme. 

Antes, em trinta segundos, a história era contada, com a imagem, em 3D, da própria sala mostrando os extintores, saída de emergência, poltronas, tudo! Suficiente. Inteligente. Hoje, são umas animações bestas, que parecem durar vários minutos, com bichinhos virtuais de barulhinhos irritantes que dizem o que você deve fazer. Como assim “não é permitido celular nesta sala”? Quem disse? ‘Celular’, o nome já diz. Vem de célula. Tem que estar junto a corpo e ativo 24h por dia! Sem exceções. “Nada de colocar os pés na poltrona da frente”? Pelo amor de Deus, onde mais colocamos os pés tão alto sem ser no cinema? É uma oportunidade única! Com sala vazia, melhor ainda, você chega fica naquela posição de mulher quando vai parir, totalmente à vontade.

Me indigno com tal situação. Tanto que certa vez, fui ao cinema na sessão da meia noite. Praticamente sozinho na sala, saí andando por cima de todas as cadeiras em direção à tela, para horror de um senhor que estava sentado ao fundo (com as mãos escondidas). Onde já se viu? Você paga caro por uma exibição e começam a te impor comportamentos? Como assim “nada de bate-papo”? Por que eles acham que ninguém gosta de ir sozinho ao cinema? Para ficar calado, não precisa de companhia. Daqui a pouco começam a emitir a mensagem de “nada de beijos ou sexo oral durante esta exibição”, o que, todos sabem, é quase trivial nos multiplexes da vida.

Os magnatas do cinema não têm nem moral para reclamar de nada. Até opção falta. Quando observamos aquele panfleto da programação, encontramos “Deu a louca em fulano”, “Tá todo mundo doido em numseionde” ou “as loucuras de beltrano 36”. O pior é que o pessoal ainda imprime elegância e, pasmem, orgulho nos letreiros: ‘Dos mesmos criadores de Insanidades em Hollywood”. Uau! Currículo é currículo, não?

Tudo é seqüência e/ou sátira agora. Você cria um drama inteligente, mas já deixa uns tiques nervosos nos personagens para que seu filme seja lembrado nas comédias ‘super-engraçadas’ que o seguem. Quando usam uma personagem de um filme, para desespero da audiência, insistem em sua característica marcante à exaustão. Talvez pensem que se não achamos graça da piada na primeira vez, talvez na vigésima sétima, gargalhemos. 

Hoje, ninguém morre em filmes. Ou melhor, até morre, mas sempre dão um jeito de ressuscitar o cara nos primeiros minutos do longa seguinte. É sempre aquele papo de “não foi bem assim” ou “sim, a estaca entrou na cabeça dele, mas, por sorte, o cérebro invertido dele não foi, por pouco, acertado”. Quando não tem jeito algum de ressuscitar o personagem (transplantes cerebrais, incluindo psíquicos, reanimações ou reencarnações não ‘colam’ no contexto), a safra é renovada com pelo menos mais uma trilogia: “Sicraninho – Como tudo começou”.

No Brasil, a coisa é diferente. Ninguém faz comédia com os filmes, uma vez que os filmes já sejam uma piada. Humor ou violência, claro. Não existe outro elemento no cinema brasileiro. Quando existe, é no ramo Cult, mas esses ninguém, além dos críticos de premiações, realmente os assiste. Quero que alguém encontre um único filme brasileiro onde não esteja presente ao menos uma cena de agressão, uma piada homossexual ou um seio à mostra. “Tô pra ver”.

Ainda assim, nosso país insiste em tentar ganhar Oscar. Eles pensam que se Martin Scorcese ganhou o prêmio com um filme como ‘Os Infiltrados’, mesmo tendo perdido, várias vezes antes, com filmes melhores, o mesmo vai se repetir com as produções brazucas. Sonham que, um dia, vão ver a ‘injustiça’ e darão mais um prêmio de consolação (provavelmente a Tainá 11 – O retorno). Eles não conseguem enxergar a diferença entre o sobrenome Scorcese e o velho ‘da Silva’.

Mas estamos caminhando a passos largos para o estilo Hollywood. Ao menos em uma coisa já somos iguais aos americanos: nossos críticos só aprovam filmes que ninguém gosta ou tem vontade de assistir. É de iraniano para lá. O que é o Homem-Aranha? 10 milhões de brasileiros devem estar errados, já que 10 críticos preferem ver ‘Campos Assolados – uma história verídica em um Irã nuclear’.

O que nos falta para concluir a experiência americana em ir ao cinema (além de mega produções nacionais, claro), é basicamente o baldinho de asa de galinha. Sim, porque americano come asa de galinha como quem fala no celular. Por aqui, a moda não pegou, mas as ‘chicken balls’ já chegaram aos shopping centers mais próximos. Estão pensando em implantar os ovinhos de codorna nos cinemas do Nordeste, mas a Anvisa ainda não liberou. Enquanto isso, curtimos a clássica pipoca. Feita do mesmo jeitinho que nossos pais costumavam pedir, com o mesmo cheiro, mesma aparência, mesma beleza. É tudo igual com o passar dos anos, a mesma pipoca na panela que começa a requebrar. Com apenas alguns detalhes (que vão além da substituição do guaraná por cola): 

“Me vê uma pipoca jumbo?”
“Clássica?”
“Clássica, sim (sem gordura trans, mas de milho transgênico, sem manteiga, com coloração pastel, gosto sintético de queijo, sem colesterol e sem sal).”
“São R$ 18,00”
“Dezoito reais? Mas eu só queria a pipoca...”
“Mas, claro, senhor. É o custo da tradição”.

Um comentário:

  1. kkkkk.. concordo com esta brilhante analise.. Mais Ed tenho que dizer que ainda continuo indo ao cinema ou vc conhece um lugar melhor para fugir deste mundo... no escurinho tudo pode acontecer... E quando digo tudo é tudo mesmo... kkkk
    Semana passada quase fui roubada ou estuprada ou sei lá o que no cinema.. o bom da historia é o QUASE.. entrei na seção e sentei numa fila so. dentro de 5 minutos um sujeito com pinta estranha sentou duas cadeiras a direita e um minuto depois outro sentou duas cadeiras a esquerda.. devido a alguns email resolvi mudar de lugar.. dito e feito... na hora que começou o filme os dois mudaram de lugar um para o lado do outro...
    Tem coisa melhor que este friozinho na barriga do quase por isso não deixo de ir ao cinema...
    beijos
    Otimo Blog...
    Ádria de Souza

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