segunda-feira, 11 de abril de 2011

Cada um lida com separação como pode (entenda como quiser)

“Acabou”.
“Como assim acabou? Está louco?”, disse, surpresa. Bem que desconfiara daquele jantar em pela terça-feira, sem qualquer pretexto aparente.
“Posso até estar. Mas não dá mais”, disse, hesitando por um momento. “Você sabe que eu a amo...”, tentava escolher corretamente cada palavra. Ainda que soubesse ser impossível.
“Estou vendo...”.
“Não me julgue mal. Não questione o que senti por você e...”.
“’Senti’?”, perguntou, quase sem ar. Aquela tinha doído. “Como você pode dizer que a gente não deu certo?”, questionou, num misto mais de raiva que lamentação.

“Demos certo. Muito. Durante quatro anos. Ponto”, e arrependeu-se no segundo que disse. Ela não aceitaria o ‘ponto’ muito bem. Mas ela nada disse. Calou-se, o que era ainda mais preocupante. “Desculpe. Minha cabeça está cheia de coisa no trabalho. Acabo não tendo muito tato e...”.
“Quem é ela?”.
“Ela? Não tem ‘ela’ nenhuma”.
“Sempre tem uma ‘ela’. Ninguém atira um relacionamento de quatro anos, nessa idade, ao alto da forma como você está fazendo”, disse, tentando ler em seu menear de cabeça, de desaprovação, algum traço de culpa. Se viu observando seu colarinho e buscando por arranhões em seus braços ou rosto. “Ela é mais nova que eu?”.
“ Está vendo? Essa sua obsessão. Sua imensa capacidade de achar que tudo diz respeito exclusivamente a você... Não somos mais os mesmos. Suas manias de perseguição e dengos já não têm a mesma graça e eu, a mesma paciência. Somos outros”.
“Muito bem. E foi por isso que você veio aqui? Restaurante chique, sempre lotado... Para evitar uma cena? Um espetáculo?”, questionava, já sabendo a resposta. Queria chamá-lo de desgraçado, acertá-lo em cheio no rosto. Queria gritar. Em vez disso, ficaram em silêncio por um momento.
“Você não entende. Estou num momento diferente da minha vida. Preciso me concentrar em mim. Em meus próprios problemas. Estar com você e não te dar a atenção que você merece não seria justo nem com você e nem comigo...”.
“E desde quando...”, riu, “você se preocupa com isso?”.
Ele iniciou uma resposta. Achou que não valia a pena. Olhou para o garfo em suas mãos, rodando em seus dedos nervosos. Pensara no que dizer há dias e, certamente, nada saia de acordo com o planejado.
“Você lembra...”, pigarreou e ajeitou o brinco, endireitando-se na cadeira. “quando seu pai morreu e eu disse que seria o seu suporte para quando a saudade batesse?”.
Apenas olhou-a.
“Quando mamãe morreu, você apenas dizia. ‘Eu estou aqui’”, e se deixou levar em pensamentos por alguns instantes. “’Eu estou’. Não para sempre, não incondicionalmente. ‘Estou’... Naquele momento, eu sabia que você me deixaria”, olhou em seu rosto, mas mal havia emoção. Ele apenas ouvia, estático, quase sem acreditar. “Ainda assim, quando você precisou se operar, passei noites em claro ao seu lado. Nos seus aniversários, insistia em festas surpresas, que você já esperava. E agüentava sua mãe todo santo mês...”, sorriu, olhando para o alto sem acreditar.
“O que você quer dizer?”.
“Quero dizer...”, deteve-se por um momento. Então, empinou a coluna, para parecer o mais educada que poderia e, ajeitando o guardanapo em seu colo, disse “eu quero dizer foda-se”, e esboçou um sorriso charmoso. “Mas eu não vou dizer. Vou dizer apenas que estou grávida. Deixei o exame em sua cabeceira hoje pela manhã, mas, pelo visto, você não deve ter visto...”, e, como quem contava uma animada história qualquer, pôs-se a comer.
“Grávida? Meu filho...”.
“Ou filha”, corrigiu.
“Mas o que? Quando? Como?”, tentava organizar os pensamentos, sem clareza. “Temos que conversar sobre isso. Isso muda tudo”.
“Não. Não muda nada”, disse. “Garçon! A conta!”, disse, fazendo sinal no ar.
“Claro que muda... Eu disse que ainda te amava...”.
“Acabou”.
“Como assim acabou? Está louca?”.
“Você não é o pai. Um namorado que tive há quatro anos, até hoje cedo, é”, disse levantando-se e virando para a porta. “Você mesmo disse: ‘Não somos mais os mesmos’” e partiu, levando consigo, sua meia verdade...

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