Sabe aquelas noites que começam como quem não quer nada e acabam com alguém desmaiado bêbado ao seu lado, você com fome, mas sem conseguir se mexer de tanto que sorriu o tempo inteiro? Aquela reunião com amigos que demorou semanas, meses, às vezes anos para acontecer e quando está presente parece que ninguém nunca se separou, que a vida nunca foi triste e que não há motivos para se preocupar? Há quanto tempo você não tem uma experiência dessas?
Quantas vezes você cancelou presença, rejeitou ver seus amigos, preferiu descansar em casa, encarando nada mais que um programa de TV que você nem gosta tanto e uma comida requentada no microondas? Como andam seus antigos melhores amigos, muitos deles casados ou morando em outros estados, que você até tem vontade de rever, mas acaba ‘não dando tempo’.
Quantos aniversários de pessoas importantes você anda esquecendo? Quantos jogos de futebol você teve que conferir na TV, em vez de ir a campo, porque alguém dependia de você (ou mesmo fez questão que você estivesse lá, sem real necessidade)? Quantas ligações e e-mails você posterga ou mesmo esquece de retornar?
Na correria que o mundo (e a gente mesmo) pede, vamos ficando mais intolerantes, impacientes, solitários. Reclamamos no emprego, reclamamos no trânsito, reclamamos com o presidente do Banco Central e, claro, com os movimentos sindicais. A vida passa em nossos olhos, com coisas pequenas, que vão desde o desenho mal feito do ‘menino’ até a mudança de fases da lua, que, quando você vê, já está cheia. Mas é o custo para se sentir mais valorizado, financeiramente recompensado, socialmente respeitado, autossuficiente. Será?
Será mesmo que o conceito de felicidade mudou tanto, com o passar dos anos, que está ‘bem’ quem dorme às 2h e acorda às 5h para dar conta de um trabalho extra? “É só mais esse” ou “É só uma fase”, dizemos, quando questionados. Será que estar bem acompanhado é ter ao lado alguém mais bonito ou financeiramente estável que você, de forma a somar ‘os status’? “Ela está passando por um momento difícil”, “Ele não me procura mais”... Quantas desculpas!
Passamos mais tempo em nossos escritórios que em casa. No ‘meio do caminho’, nossos filhos têm mais carinho de babás, que de mães, e admiram o professor de educação física mais que ao próprio pai. Que culpa teriam? No início, sonhos. Próximo ao fim, frustrações, promessas que, em uma segunda chance, as coisas seriam feitas diferentes... Será? Todos os dias recebemos segundas chances. Cada segunda-feira é uma nova oportunidade para mudar a rotina, começar a dieta, programar o final de semana. E o que fazemos? Tudo. Exatamente como estamos acostumados. Puramente a que estamos condicionados. Inertes. Largados.
Não esperemos o final do ano para fazer promessas que sempre cumprimos nunca. Vá ao cinema. Ligue, diga que está doente e leve seu filho à praia (afinal, saudade também é quadro clínico). Mande um bom dia despretensioso para quem você nunca mais teve contato. Às vezes, ouvir sua voz (ou ler suas letras) era tudo que ela precisava. Não marque para encontrar antigos amigos, seqüestre-os. Lembre das histórias em que tudo era mais fácil, simples e a vida parecia mais prazerosa.
Tome um banho de chuva. Grite. Esmurre a parede. Abrace uma árvore. Deite na areia da praia. Beije de surpresa (fruto de roubo, de preferência). Ame no balcão da cozinha. Na varanda, também. Dance como se ninguém estivesse olhando. Abrace um estranho. Diga, sem rodeios, “eu gosto demais de você”, “eu te amo”, “tenho saudades”. Coma num banquete. Experimente japonesa, italiana, mexicana, polonesa. Corra (pode deixar o joelho para trás). Brinque de pega. Dê banho no cachorro. Dirija sem rumo. Compre um óculos escuro. Cante em um karaokê. Fique bêbado.
Acima de tudo: ria. Compulsivamente. Inesperadamente. Coletivamente. Até doer, chorar, embolar. Do hilário e da falta de graça. Ria. Mesmo que não haja espaço, nem momento, nem lugar. Mesmo sozinho, quando ninguém mais entende. Ria. Mesmo que signifique perder tempo. Os problemas não ficarão mais fáceis, a juventude não voltará às faces, mas o mundo vai, enfim, parecer mais belo. E, no fim das contas, é o que importa. Não viemos ‘aqui’ apenas para ‘completar a viagem’, mas para apreciar a vista.
Ei, menino, vc sempre me emocionando. Não sei se é a velhice, fiz 40, não tenho mais a beleza dos 20, nem a paciência dos 10 anos. Mas me lembro de uma amiga, dos 10 até agora, bem que não a vejo há uns quatro anos (parece mentira), que ríamos de tudo e de todos, compulsivamente, sem dizer nada uma para outra. Um dia, fizemos xixi de tanto rir de um cachorro feio. Parece mentira. Que saudade dela. Que saudade daquelas gargalhadas.Vou ligar pra ela agora. Um beijo. Obrigada.
ResponderExcluirED...esse texto me ferrou rsrsr
ResponderExcluirMe enquadro bem kk Ou foi uma homenagem "A Lista" de Montenegro? Não, não foi; estou querendo fugir mais uma vez!
Poxa ED...
abraços
Muito bom, Ed. Pura verdade.
ResponderExcluirEstou sem palavras...
ResponderExcluirTexto muito bom,sério mesmo,fazia algum tempo que ue não me emocionava lendo um texto.
Abraços e continue com o bom trabalho no blog.
Muuuuito bom, sem palavras!
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