sexta-feira, 25 de março de 2011

Recife, uma selva de faróis selvagens



Grande Austeróbilo,


Eu não gosto de dirigir porque sou gordo. É impossível ser agradável ou risonho no trânsito dessa cidade! Enquanto a indústria comemora recordes de vendas de novos carros, brigamos por vagas em estacionamentos. Não bastasse o número de veículos, a qualidade dos motoristas já não é mais a mesma. Isso é o que dá se guiar pelo ‘garagem-rampa-baliza’, como se tudo que fizéssemos na estrada fosse parar e estacionar nas ladeiras de Olinda!

Pior que a incapacidade, só mesmo a falta de educação. Tanto que recifense quando vai a outra capital e vê o povo parando na faixa de pedestres, estranha! Buzinas em dias de jogo, cortes pela direita, curvas sem setas... Cenários de uma selva que me lembra muito uma das obras-prima da Hanna-Barbera: Corrida Maluca! Lembra dela? Cada tipo de condutor pode ser identificado ali, na bendita mágica da extinta Manchete.


Os Irmãos Rocha – Um de seus primos! Acha que o carro é feito de pedra e, por isso, pode sofrer uma média de quatro colisões por ano até que a lataria se torne um ‘maracujá’.


Rufus Lenhador – Caminhoneiro no meio da BR! Daquele que você não sabe de onde vem, muito menos para onde vai, especialmente na hora de mudar de faixa ou parar no acostamento. 


Quadrilha da Morte – Um grupo de desmanche, de Paulista ou Jaboatão, em fuga pós-assalto. Velocidade média de 140 km/h e 6 tiros/minuto.


Penélope Charmosa – Convenhamos, todos gostamos de ‘dondocas’ delicadas que se maquiam. Mas não em plena Agamenon Magalhães! E não na faixa da esquerda. Além de tudo, elas não cedem passagem a absolutamente ninguém (em especial, outra mulher).


Coupê Mal Assombrado – São aqueles carros ‘classe A’, com vidros negros que você não sabe o que esperar que saia de dentro: um marajá em visita oficial à cidade ou um bêbado mostrando o traseiro para se divertir.


Barão Vermelho – Sabe aqueles carros que todo mundo encara e inveja? Daqueles que parecem ter saído de um filme antigo, mas que ainda rodam nas ruas da cidade com um velho escroto buscando ‘vento nos cabelos’? Pronto, o velho escroto.


Professor Aéreo – Um de seus amigos. Aqueles que rejeitam, de toda forma, parar e pedir informação e estão sempre inventando um caminho novo. No fim das contas, gasta uma hora mais do que deveria ou acaba pedindo ajuda, à noite, no meio do Coque...


Peter Perfeito – Um daqueles detestáveis playboys metidos a besta que acham que, porque dirigem um Audi, estão acima do resto do mundo e vão ‘pegar’ todas as mulheres que passem em frente ao carro. Prepotentes! Mesmo que a segunda parte, em geral, seja verdade.


Tio Tomás – É aquele que dirige um Fusca, Brasília, Gol quadrado, Del Rey e outros intensos poluidores. Não bastasse incomodar pelo barulho, eles mudam de faixa a cada trinta segundos e, em geral, você está bem atrás deles.


Carro Tanque – Ônibus! O pesadelo dos iniciantes. E dos mais experientes também. Trambolhos motorizados com condutores implacáveis que teimam em ‘esquecer’ de olhar nos retrovisores antes de realizar uma curva ou frear.


Dick Vigarista – Precisa dizer? Motoqueiro, claro. Parar em sinal e ver uma luz se aproximando é sinônimo de pânico. Não ver, é acidente. Perigo constante sobre duas rodas!


Assim como Corrida Maluca, Caverna do Dragão e outros mitos diários de nossa imaginação histórica, o trânsito não tem fim e se repete à exaustão. Com a infeliz diferença de que, pobres e trabalhadores, não temos a opção de ‘desligar a TV’ e ‘ler um livro’... 

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