“Mais para cá, um pouquinho só!”, e observou enquanto ela se posicionava perfeitamente onde ele desejava. “Agora para trás. Mais um pouquinho, aí. Aí. Não mexe”, falou observando-a enquanto clicava mais uma fotografia. Ela era assim. Ao final de cada dia bom, no crepúsculo, queria tirar uma foto com o sol, mar ou lua, o que o humor demandasse. “Nos dias tristes, esquecemos quantos dias bons nós tivemos e acabamos sendo injustos com Deus”, explicava. Não, ela não era religiosa e também não tinha convicções tão fortes. Antes, colecionava tampas de garrafas de bebidas alcoólicas e, sabia, em algum lugar, no fundo de seu armário, havia uma caixa repleta de papéis de carta que nem se produziam mais... Não a questionava.
Pegou-a pelas mãos e a abraçou por trás, a sentir o cheiro de seu pescoço e se permitir ser invadido por sua gargalhada gostosa. Ela não era previsível, mas tinha um sorriso constante e que iluminava a vida até mesmo de um frentista com quem ela trocava poucas palavras de atenção em um dia em que todos o ignoraram. Com ela, aprendeu a levar a vida mais a sério, mas com menos inflexibilidade. Pouco havia do homem que costumava ser. E se ele dialogasse com sua atual versão, provavelmente não se conheceriam...
Não jantariam. Ela queria comer um churro de rua e sentar à beira mar para ouvir o som das ondas batendo contra as pedras. Ficava em silêncio, observando o nada, com a cabeça encolhida em seu peito. As mãos tremiam de frio e reagiam ao toque carinhoso de suas mãos a proteger-lhe. As horas passariam rapidamente enquanto estivessem ali, juntos, ainda que calados. Lá fora, sabiam, a cidade ardia no trânsito noturno que irritava e na violência bandida que feria. Estavam indiferentes...
Olhou para os pequenos brincos que lhe dera em seu aniversário. Um trevo de quatro folhas. “Para que quem te encontre pela primeira vez perceba a sorte que teve”, lembra de ter dito. Aquilo havia mudado a relação dos dois. Pela primeira vez se viu envolvido. Pela primeira vez falou com Deus. Disse-O que, pela primeira vez, havia medo em seu semblante. Um medo vazio e inconveniente de que, a partir de então, poderia se machucar ao ser deixado. Mas agradeceu a Ele porque era a primeira vez que sentia esse tal medo, mas pensava não ser algo ruim. Esperava, a qualquer momento, ter o coração arrancado. Mas ela nunca o fazia.
Chegou à conclusão que ela era mais inteligente que ele. Mais bonita também. Sua família tinha mais dinheiro e os amigos, eram mais bem relacionados. Ainda assim, ela estava entre seus braços. Era ela quem ia aos sambas do domingo em sua companhia, assistia aos jogos de futebol de seu time, mesmo torcendo para outro, e ainda parecia se divertir quando assistiam a um filme de guerra, em vez de mais uma das comédias românticas que ela tanto gostava. Quase sempre discutiam, e riam, segundos depois, mas nunca brigavam. As amigas dela o aprovavam e seus próprios amigos eram loucos por ela.
Duvidou, por um segundo, se, entre seus braços havia uma pessoa real. Sorriu ao entender que sim, já que ela passava as unhas em seu couro cabeludo até fazê-lo dormir e as cravava em suas costas, quando dormir era o último dos planos. Abraçou-a forte. “O que foi?”, perguntou. Não havia resposta. Era nada. Não sabia porque ela estava com ele, mas era agradecido por esse motivo existir. Voltou a fitar o mar, sentindo o perfume dos cabelos dela invadirem-lhe as narinas. Beijou seu lóbulo, desenhando o trevo de quatro folhas, como quem admite não saber ao que se devia tamanha sorte, mas implora para que ela não vá embora jamais...
Seria muito bom q as pessoas valorizassem o companheiro qdo reconhecesse q são especiais. O texto é excelente e envolve o leitor. Os finais são surpreendentes, adoro! Qria encontrar um rapaz assim...existe?!D.Carvalho
ResponderExcluirUm dia vou encontrar alguém assim p mim... Esse Ed consegue tocar fundo! Parabéns...
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