quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Não Conte Pro Seu Chefe - No ‘barato’, as idéias ficam mais claras

Me chamo Gustavo, mas posso ser Rui, Bento, Francisco ou Roberto, ao gosto do freguês. Pagando, está tudo bem. Também acredito no que qualquer um me conte e faço acreditar que estou acreditando também, basta que meus honorários estejam em dia. Mordo, aliso, faço graça, me finjo de louco, tudo para atingir o ápice da satisfação de meu cliente. Sou advogado, claro!

Trabalho em uma empresa relativamente bem conceituada ao mundo exterior e bem desesperada para quem é obrigado a passar os dias sob o comando de meu chefe, Rodrigo Calazans. Não é que ele seja um completo imbecil porque foi corno, ele é corno por ser um completo imbecil e, se pudesse, comia a mulher dele também!

Não, não estou revoltado. É apenas o cansaço natural de ter aturado dois processos criminais, um divórcio e ganhar de bônus as infrações de multas desse veado, enquanto ele sai com os amigos para tentar provar que não é viciado em traçar travestis e se vestir de Moranguinho. Olho em volta e as pilhas de papéis se amontoam. Até quando ‘duro’, não sei precisar.


Já passam das 21h e não tem quase ninguém na empresa. Droga! Seria a oportunidade ideal para mais uma vez mamar a secretária dele, em cima da mesa de mogno que ele limpa compulsivamente, sem nem imaginar. Agora tudo que resta é tirar as calças, sentar na braçadeira e acender minha erva da felicidade, que me mantém são e empregado há tantos meses.

No ‘barato’, as idéias ficam mais claras. Agora tenho a solução para as seis multas de alta velocidade e furar sinal vermelho. Muito provavelmente ele tentava flagrar a esposa em algum dos raros momentos de felicidade que ela dispõe. Em uma única folha de papel, anexo todos os processos, cuja defesa só tem uma. Por isso escrevo:

“Prezado Meritíssimo, conforme o senhor bem sabe, temos uma relação bastante próxima e nossas filhas freqüentam a mesma escola. Assim sendo, não seria leviano em descrever-lhe grandes cenas épicas em que tento socorrer ao hospital um gêmeo simiano que passava mal, muito menos o direi que trata-se na verdade da ação de um assaltante que, tomando meu carro, fez tamanhas manobras.

 Não. Fui eu quem dirigia. Também era este que vos fala o grande responsável pelas grandes velocidades registradas. Acontece, meritíssimo, que me foi imposta a natureza dos brutos, daquela que junta pobres e ricos em posição de submissão. Daquela, que não se espera, nem se sabe o que fazer. Daquela, que quando chega, não há controle ou porte ideal. Por isso, peço que me absolva não pela inexistência de tais fatos, comprovadamente assumidos, mas pela compreensão, de homem para homem, que, acometido de uma dor de barriga, o senhor também faria  o mesmo. Afinal, pior que, literalmente, fazer merda, é tornar-se refém dela. Sem mais, Rodrigo Calazans”. Concluo, certo de abrir precedentes para demissão ou para jurisprudência...

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