sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Epilepsia dos corpos e orgasmos de 15 minutos

Sexo. É isso que o brasileiro faz quando não está trabalhando (e tem companhia, claro). Se não sexo-ação, sexo-insinuação. Somos o povo mais depravado do mundo. No entanto, temos as melhores piadas (de sexo, obviamente).

Tudo que concerne as genitais viram tema de boas conversas ou maus nomes. O assunto cresce junto com as crianças, invade o horário nobre e pobre da televisão, chega aos games, passa por todas as barreiras, está em todos os círculos (sim, em todos). Talvez quem menos fale em sexo seja justamente os mais hipócritas e reprimidos pseudo-intelectuais, mais por vergonha que por falta de vontade.

O sexo está presente no discurso de todo brasileiro. Nas brigas. Nos xingamentos. Nas profissões (sim, porque como ficar indiferente ao fato da contabilidade ser a prática de manipular o bruto e fazer o balanço para extrair o líquido?). Nos anseios de vida, uma vez que diversos são os casos de jovens que escolhem profissões que possam mais facilmente ‘traçar’ mulheres (por acesso ou por dinheiro obtido).

Nos jogos, a idéia vai muito além da fissura por bolas. Muitos dos entretenimentos do gênero chamam a atenção por estar justamente em oposição à idéia natural das coisas (como a expressão buscar meter no gol, ou a ‘enfiada’). Sinuca, ou bilhar, é um exemplo. Nesse jogo, manipulam-se os tacos à beira dos buracos por vários minutos, mas, no ápice, quem entra é bola. No finzinho, vulgo rabinho, entra a preta (sempre ‘a’ preta). As madeiras ficam à mostra, com a opção do branco da ponta, mas sempre do lado de fora.

Em outros casos, a indústria do sexo se consolida em total consonância com o mundo ‘real’. Muitas vezes predizendo o futuro. A história da pirataria estava lá o tempo inteiro, nas indústrias Playboy. Silicones em peitos genéricos que substituíam os originais? Era um presságio e os incompetentes não perceberam... O mesmo material serve também de porta do passado. Afinal, onde se encontram entregadores de pizza (ainda por cima, fardados) senão em filmes pornôs? Tanta cultura. Tanto estigma...

A verdade é que todos estamos atrás da perfeição sexual. Do orgasmo de 15 minutos. Da epilepsia de corpos. Dos sabores não reproduzidos artificialmente. Estamos todos querendo prazer. Pensamos em sexo a todo o tempo, em todos os lugares. No trabalho e na igreja também. Impossível ficar indiferente a saias de secretárias e a uma beata de calça apertada.

Muito se fala no que é errado, no sexo. Pouco se fala no natural. Com todos os animais a história se repete: basta a fêmea estar no cio, que todos os machos passam os dias seguintes atacando tudo que vêem pela frente. Eles não pensam em outra coisa. Dedicam-se exclusivamente a isso.

Com os seres humanos, muitos tentam fazer de conta que é diferente. Mas, não. Basta uma fêmea dar a mínima menção de estar disponível ou inclinada para que os volumes sejam alterados.

Quem nunca fez, pensa em fazer. Quem já fez, também. Quem não mais faz, fica na saudade, mas paciência. As mulheres, em geral mais recatadas, são as piores. Muitas vezes, basta que uma gota de suor escorra diferente para que o processo se inicie. Mas são sempre elas que reclamam que só pensamos naquilo.

Ninguém trabalha por atração. Trabalhamos para darmos um tempo entre o evento sexual da manhã e o da noite, ou, no mínimo, para esquecer a impossibilidade desses dois. Tanto que só quem planeja carreira desde o primeiro dia de trabalho é garota de programa. Apenas.

Todos queremos navegar por mares desconhecidos, nos encontrarmos jogados entre seios cheios de anseios, medo e prazer. Queremos o limpo para sujar, para suarmos, para batermos, nos esbanjarmos, lambuzarmos. Queremos a habilidade dos dedos, firmeza das línguas, disponibilidade dos ouvidos.

Desejamos conhecer a fundo um outro lado, querendo, no entanto, que, vez por outra, nos surpreendam, reinvente. Queremos a educação das ruas traduzida em devassidão na cama. Mente quem diz que gosta de discrição. Queremos gritos de prazer ecoando nos ouvidos de todos os vizinhos, contar os louros para todos os nossos amigos e a conexão perfeita, anos a fio, antes da primeira brochada.

Todos os homens querem uma noite com Juliana Paes. Todas as mulheres querem ser possuídas por um desconhecido de forma bruta. E a cada vez que chegamos ao clímax, queremos mais. Não basta gozar, mas continuar gozando, sempre, litros, toneladas. Aquele que conseguir o tântrico de três horas vai em busca do de cinco, nunca satisfeito. A falta de satisfação na satisfação contínua, mas já conhecida, frustra nossa ânsia pela evolução. O que nos resta é brindar aos nervos rígidos e aos soluços respiratórios ao pé do ouvido, repetidos em manhãs de domingos de chuva.

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