Nesse meio tempo, o bispo Valentim realizava casamentos religiosos daqueles que ansiavam experimentar as maravilhas do doce amor (entenda-se tesão), mas que tinham medo do fogo do inferno (argumento recorrente da época). O cara era mais popular do que seria Marcelo Rossi distribuindo bala na Rocinha. Acabou descoberto. Foi para a cadeia e condenado à morte. Afinal, ninguém podia comprometer o harém da toda poderosa Caldeusinha!
Rege a lenda que, quando ele ainda estava na prisão, a filha do carcereiro, Assíria, que era cega, conseguiu, com a ajuda do pai, ficar visitando Valentim. Na prisão, se apaixonaram (sei...). Por conta desse amor (e com toda a ação mágica que um pênis poderia exercer, literalmente, no escuro), a mulher voltou a enxergar. Até hoje, a ciência, cética, tenta provar que, na verdade, era o 'queijo' que atrapalhava as pálpebras da 'moça'. O 'milagre' permaneceu à surdina, até o dia 14 de fevereiro, quando o dono do 'bisturi mágico' foi decapitado. Desde então, repete-se o costume do eterno enamorado: cartões de amor.
Hoje em dia, cerca de um bilhão deles circulam por ano nas datas que remetem ao Dia dos Namorados. A data figura entre os dias mais lucrativos do ano. Ao todo, quase 80% das compras são realizadas por mulheres, quer por gosto, ressentimento ou ingenuidade. O que leva a crer que a picadura do inseto Valentim conquistou mais que a Assíria, mas o mundo inteiro, com exceção dos baianos, óbvio.
Se há uma data que merece ser comemorada, essa é do Dia dos Namorados. Nada melhor que alguém com quem dividir suas conquistas e frustrações. Nada mais engraçado que bancar crianças falando com vozes de bebê e fazendo cafuné atrás da orelha. Nada mais gostoso que ter alguém para dar boa noite e que você sabe que acorda pensando em você. Nada mais construtivo que desenvolver em bases sólidas um sentimento compartilhado que só trará frutos. Nada mais barato que ter uma parceira fixa sem precisar pagar um tostão no pré ou pós-coito.
No Dia dos Namorados todo o mundo fica mais feliz. Os restaurantes ficam mais felizes. Os motéis ficam mais felizes. As lojinhas ficam mais felizes. Apenas os plantonistas de hospitais que recebem as tentativas de suicídio dos solteiros é que não devem ficar tão felizes. Mas ainda conseguem uma gracinha entre um despacho e outro por meio do celular.
Confesso que tenho a deplorável mania de terminar meus relacionamentos nos últimos de dias de maio. Dessa forma, afasto duas possibilidades. A primeira é de a mulher querer casar (mês das noivas, sabe como é). A segunda, de torrar meu suado dinheiro em algo que muito provavelmente ela iria trocar. O caso é simples. Evita-se dor de cabeça. E sobra mais dotação orçamentária destinada à confraternização com antigos amigos. A investida vem com um bônus: São João solteiro. Daí é só viajar à Caruaru ou Campina Grande e aproveitar o intervalo. Quando chega São Pedro, amigo Pedro das chuvas contínuas, bate aquele aperto, um friozinho. Aí chega a hora de retornar as ligações ora ignoradas.
“...”
“...”
“É você?”
“Sim. Sinto sua falta.”
“Foi você que quis assim...”
“Eu nunca quis assim. Eu não sabia o que queria.”
“Nunca pude...”
“Não é você. Sou eu. O problema estava comigo, eu admito.”
“Mas...”
“Você ainda me ama?”
“As coisas não funcionam assim...”
“Ama?”
“...”
“Então... Como a gente pode enganar nosso coração assim?”
“É fácil para você falar...”
“Claro que é fácil... É bom estar com você. É bom ter alguém para dividir as conquistas e derrotas”
“É...”
“E sei que você gosta quando eu cheiro o seu cangote, falo manso ao seu ouvido que te quero”
“...”
“Tudo é mais gostoso, mais construtivo, mais barato”
“Barato?”
“Tudo é ‘mó’ barato..."
"..."
"A vida é mais bonita, olhando nos teus olhos...”
“Vem aqui”
“’Tô’ aqui na frente”
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