quinta-feira, 20 de junho de 2013

Sobre protesto, centavos e ruas. E, sim, sobre você



Ele não sabia porque estava indo às ruas, só sabia que tinha que ir. Não porque todos estavam dizendo que iriam, não porque queria colocar-se como um grão de areia na praia avassaladora de um capítulo da história, nem por conta de partidos políticos ou influência de mídias corporativistas - e, sim, ele agora falava "corporativistas" -. Ele tinha que ir às ruas porque havia muito "errado". E, apesar de sempre se haver discordâncias quanto ao certo, há unanimidade quando se sente a merda cobrir. Aquela atirada em seu rosto, ricocheteada no ventilador e enfiada goela abaixo por quem parece nem enxergá-lo em sua condição de grão de areia.

A rua, de certa forma, lhe pareceu certa. O momento, propício. O apoio, existente. Os motivos, vários, bastantes e revoltantes. Era certo. Tinha que ir. E foi.

Caminhou entre gritos que ecoavam sozinhos, em desespero, e passavam a ser entoados junto. Revoltou-se com causas que nem eram suas, pelo simples fato de serem causas. E causas ali sobravam. Há os esquecidos, os abandonados, os incuráveis e também os desnorteados. E todos juntos sob uma grande bandeira que os fazem de otários todos os dias. A ordem, que os obriga a trabalharem três horas e meia, de segunda a sexta, apenas para bancar a mesma entidade que sempre os oprimiu. E o progresso de uma economia sempre promissora e que galopa à distância de seus bolsos. A bandeira dos elefantes brancos e também dos verdes e amarelos. Bichos e pesos de todas as cores e tamanhos para entreter multidões, enquanto seus destinos são definidos às surdinas, por quem só se faz surdo para ouvir o grito de quem jurou representar.

Na rua, ele não se sentiu sozinho. E compreendeu o que há muito sequer via. Que a bala disparada é fruto da mesma ignorante falta de educação pela qual se revolta. Que a marcha, atrasada, é a mesma que se faz a cada dois anos antes de cumprir obrigação e seguir à praia. Que a pedra atirada é a explosão de uma raiva que sufoca o peito de poucos, em muitas madrugadas fora. Que, independente de realidades, o que se quer é o mínimo do decente para viver, em vez de apenas sobreviver. Que consciência, motivos e disposição sempre existiram. só faltava ir às ruas.

Gritou junto por, pelo menos, vinte causas. Caminhou na marcha da maconha e da família. Pintou a cara como desejava, secretamente, desde que via as fotos nos livros de história. Acreditou, por algumas horas, que as crianças, de fato, derrubariam reis, ainda que a comédia de suas leis não trouxessem graça alguma. Pelo momento, não se fez classe. Nem rico, nem pobre, nem estudante, nem trabalhador, nem evangélico, nem SUS, nem gay, nem governante, nem eleitor. Sem saber se adiantaria, se algo mudaria, se alguém ouviria e tantos outros condicionantes.

Ele se fez gente, em um tempo desumano. Se fez igual em um abismo de desigualdades. Se fez outro, quando, até bem pouco, era só umbigo. Se fez bastante, porque o mínimo que era oferecido já não era suficiente. E, então, percebeu que a mudança não apenas começara, estava feita: não estava sozinho.


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