quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Vivemos em uma geração 'Não me toques'

Eu já fiquei ajoelhado no banco de trás do carro rindo, apontando e dando tchau para todos os motoristas que passavam, me divertindo como nunca. Já fiquei horas em frente à televisão, assistindo às mesmas cenas, repetindo diálogos e cantando músicas de desenhos animados. Também já chorei de medo porque quebrei um vaso ou copo e não sabia como contar aos meus pais.

O que nunca fiz, no entanto, foi espetáculo em supermercado para tentar obrigar alguém a me comprar o que eu queria. Nunca levantei a mão para minha mãe, revelando qualquer frustração de meu mimo. Também não deixava de pedir a bênção a todos os adultos da família, não interrompia enquanto nenhuma pessoa mais velha falava e, antes de me dirigir a alguém, era, muito bem, obrigado a utilizar ‘Obrigado’, ‘Por favor’, ‘Com licença’...

Não sou do tipo que acha que tive a última infância feliz, mas, talvez, tenha tido a última ‘Infância infantil’. Lembro de ficar maravilhado enquanto via novos eletrônicos que davam novo significado a tudo que tinha em casa. A chegada do controle remoto, o prato carrossel do sistema de som, DVD, celular tijolão... Era uma admiração compartilhada por adultos e crianças. Lembro também de achar graça em desenhos animados simples, sem muitos efeitos, que, hoje, acho toscos. Nos joelhos, ainda carrego as marcas de minhas aventuras sem limites, que não passavam do quintal de alguém ou da caixa d’água do prédio onde vivia.

Tiraram a essência da infância. Aos pais, nada é permitido. Às crianças, o céu é o limite. Para protegê-los, os pequenos são mantidos em verdadeiras bolhas tecnológicas. Já nascem teclando e quando, finalmente, põem os pés na areia, acabam caindo doentes. ‘Abandonadas’ em casa por seus responsáveis trabalhadores, fazem de tudo para chamar a atenção: não comem, gritam, batem, fogem, escandalizam na fila do supermercado... E, hoje, a ‘bênção’, por certo, se resume a um batismo ou outro.

A ‘Geração Não me Toques’ é egocêntrica. Quer toda a atenção e nenhum ônus. Levar palmada para ajuste de conduta agora é agressão física. Dormir sujo ou molhado de xixi para aprender a não molhar a cama é atestado de incapacidade parental. Ajoelhar nos caroços de milho é tortura. Passar por implicâncias de outras crianças na escola é bullying. E ai de quem vá de encontro com as recomendações de tantos psicólogos, assistentes sociais, policiais...

O resultado, vemos na prática. Idoso não tem vez contra as crianças e jovens espertos, os centros de ressocialização juvenis nunca estiveram tão cheios, garotos se tornam aviõezinhos do tráfico e portam armas aos 9, garotas, são mães aos 12. Brinquedos de dia das crianças são cada vez mais caros, porque são inspirados em demônios japoneses que saem de bichinhos virtuais, cartas mágicas, relógios ou peões (ainda que nenhuma dessas crianças, de fato, conheça um peão). E vamos seguindo, com nossas regras e proteções, achando que estamos sempre mais certos que os que vieram antes de nós. E ai de quem se meter e disser “Você está estragando o menino...”.

Um comentário:

  1. Aew Ed, isso mesmo, muito bom e eu ainda vivi uma infância mais infantil que esta, mas muito linda com direito a fazer de galhos de árvores trapézio e quebrar perna, pé e assim ser muito feliz, muito criança. O máximo foi a chegada do homem a lua que acompanhavamos por uma tv em preto e branco....uma "colorado RQ" que tinha na casa da vizinha, e que só algum tempo depois chegou a nosso lar!! SABIAMOS RIR DE VERDADE, por isso vivo rindo até hoje e muito, até das besteiras!!!

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