sábado, 31 de agosto de 2013

Ter saudades é estar doente por opção, apresentando sintomas de vontade

Falar exatamente o que se pensa liberta o homem. Não por gritos e bandeiras. Dizer o que se sente é um desafio dos mais simples de serem superados - e dos mais temidos. Uma vez passada a barreira, vive-se a beleza sorridente de uma verdade sem medo de rejeições. Então, dizemos tudo e tantos desavisados não entendem pelo simples fato de não sabermos ouvir. Há um quê de abandono num "não" nem dito. Há um quê de vontade na ligação não feita. Há um quê de vergonha na palavra engolida. E há um quê de sadismo na esperança que aguarda. Isso porque meu quê ignora tristeza e só conhece saudade...

Não adianta, não nos bastamos. Queremos nossos umbigos como centros do mundo, mas o vazio de um mundo unitário só nos traz angústia. Queremos os pares, as centenas, as festas... Admitamos que queremos o abraço de muitos os que acarinham nossa história e ego. E, mais ainda, o cafuné sempre presente de quem nos palpita o coração. Sozinho, a bola não faz passar o tempo, jogo é treino e não passatempo. Sozinho, o riso é vazio, besta, quase triste... Sozinho não se brinca de ser feliz.

E se todos os sentimentos já estão gastos nas vãs canções de tantos quaisquer, entoarei todos os acordes de uma cifra silenciosa e acompanho a percussão da música surda e muda de uma vida de distância. Porque se o amor é letra, o desejo é melodia e quem canta é essa mesma saudade. Porque é ela quem me faz voar pelos céus e com um abraço me tira o chão. Por que não esperar o giro do mundo se no mar de incertezas me afogo por opção?

Antes diziam querer uma casa no campo. Diziam querer sentimentos duradouros, filhos bem sucedidos, amores que durassem mais que o jacarandá da velha estante herdada há duas décadas. Diziam querer respeito ao próximo, dinheiro apenas o suficiente para viver, uma viagem de férias ao ano... Diziam que queriam aproveitar as coisas simples de uma vida média, de amigos médios, comidas médias, taxas na média, classe média. Acima disso, só a cerveja, que deveria ser geladíssima. Diziam que queríamos muito para ser plenamente felizes. Diziam que a felicidade plena não existe. Sempre disseram tanto que só viveu quem não os ouvia... mas isso é o que diziam... antes...

Quando entenderem que o melhor tempo da vida é hoje, economizarão nos desafetos, acelerarão as confissões e desculpas, valorizarão o próximo como se convivência fosse uma eterna despedida e deixarão de calar as vozes d'alma, que querem apenas sussurrar morno no ouvido certo, como chuva fina em dias quentes... Todo o resto é saudade.


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