Se as pessoas um dia soubessem...

Se as pessoas um dia soubessem quão bem faz ouvir um "bom dia" quando se acredita ser invisível, acredito que começariam a entender o que a expressão significa. Não é cordialidade ou pura educação, mas um desejo sincero de que você espera que tudo dê certo na vida de alguém até o momento em que ela deita a cabeça no travesseiro. Abrir a porta para uma mulher, ou mesmo um homem mais velho, não te tira pedaço e ainda pode te render sorrisos. Frutos de uma surpresa consequente de uma brutalização idiota de nossos modos. Pedir desculpas ou licença não dói, não ofende, nem tira honra.

Se as pessoas um dia soubessem o que se esconde por trás de um riso, talvez parassem para pensar que não são as únicas no mundo a ter problemas. E, quem sabe, entenderiam que a culpa por suas questões em nada tem a ver com o próximo, muito menos com subordinados, ainda menos com menos abastados no meio das ruas. Quantas vezes não temos que oferecer ombros e ouvidos quando somos nós que precisamos? Quantas vezes não doamos trocados sem mesmo saber se o orçamento chega a cobrir os gastos até o final do mês?

Se as pessoas um dia soubessem o efeito avassalador que tem um abraço, nunca se manteriam distantes. O encontro de corpos é um recado que alguém te quer bem, que a saudade perdeu a batalha por um dia, que mais de um coração pode bater em um mesmo ritmo e que o mundo também espera que você fique bem. Talvez assim, menos pessoas se sentissem sós no mundo e mais amigos soubessem o apoio e afeto existente na família que formou por opção.

Se as pessoas um dia soubessem que títulos não são eternos apesar da ausência, voltariam a escrever longas cartas, ligariam todos os dias, mandariam sinais de fumaça. E, assim, amizades não seriam tão facilmente desfeitas, como celulares que se troca a cada novo lançamento. E pais saberiam quem são seus filhos antes que eles crescessem à luz de modelos que eles mesmos desconhecem. E amantes manteriam acesa a chama de um tesão que insiste em resistir ao tempo.

Se as pessoas um dia soubessem que pensar demais atrapalha, topariam os saltos que a vida exige. E, assim, cometeriam mais erros, mas viveriam mais. E, assim, também acertariam mais e colheriam os frutos. E, assim, cantariam Roberto com propriedade, dizendo que o importante são as emoções vividas. Se as pessoas descobrissem que não é tão difícil viver; que não é tão complicado tentar não passar por cima dos outros; que não é tão impossível esquecer quem, um dia, fez diferença em sua vida; que cada momento compartilhado vale duas vezes mais que a solidão egoísta que nos afoga pouco a pouco... Quem sabe assim elas soubessem, um dia, metade do que acreditam, de fato, saber?