domingo, 6 de janeiro de 2013

E quando conhecer alguém te deixa, assim, besta?

Ela olhou pra mim de repente. Entre um repente e outro. Ao ensaiar um passinho desajeitado. Sorria com olhos, sobrancelhas e testa, como deve ser. O suor pingando pelo canto do pescoço justificava os cabelos molhados que eram constantemente sacudidos em direção aos fracos ventiladores. Perguntas despretensiosas. Nome, trabalho, músicas... Tudo menos a idade. Idade só se pergunta em dúvida explícita sobre a maioridade das sambistas de enredos silenciosos, de letras e shows quaisquer.

A conduzida para a dança é a chance de sentir o perfume, encostar o rosto, sentir o peito à risada inesperada. Conto uma história constrangedora sobre mim e arranco-lhe sorrisos. Talvez essa seja a forma mais agradável da mulher sentir-se desejada. Quando há esforços para fazê-la sentir-se bem e interessante o suficiente para não ser apenas um alvo de tesão momentâneo. Mulher boa é a que se ofende em uma chegada puramente objetiva, que se deixa objetificar.

Os lábios começam a roçar, de leve, os lóbulos, como quem pede complemento. Palavras faltam. Nomes são desnecessários. Toques fluem. Mãos a apertar a nuca. Passos em compasso. Respirar faz-se opcional. Telefones são vínculos. E redes. E endereços. Investiga-se a vida, esquece-se passado, bagagens, defeitos. Calcula-se o tempo necessário para entrar em contato. Interpreta-se cada ação, cada mensagem respondida ou ignorada.

Conhecer novas pessoas é um recomeço involuntário. Um rush que não se controla. Carência das inesperadas. Nunca lembramos os primeiros segundos que vemos as pessoas que mudarão o curso de nossas vidas. Sem informação de um futuro nem tão distante, ficamos a cargo de nossa seletiva e supérflua memória. Então, fantasiamos. Reinterpretamos. Tornamos mágicos os minutos que dão início a toda grande história.

Não há espaço para questionamentos, dúvidas e divagações. Ali, não há rotinas enfadonhas, trejeitos irritantes, familiares inconvenientes. Por alguns momentos, somos protagonistas de histórias que valem a pena. Espectadores de nossa própria graça. Torcedores da superação de nosso próprio drama. Alimentamos as borboletas do estômago, com minhocas de nossas cabeças, adubadas com o vírus de paixões que insistem em nos fazer sucumbir de tempos em tempos. No descanso do acaso, não há distância, essa puta. Ao vacilo do “não”, também não existe a filha dela, uma tal de saudade...

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