Eu admito, tenho preconceitos. Bem diferente da moda dos anos 2000 de ser legal, não julgar ninguém por nada, admito. Pode ter preconceito contra mim, por eu ser preconceituoso. Mas eu não vou mentir. Eu fico com o pé no acelerador sempre que vejo um motoqueiro com o visor escurecido. Se são dois em uma mesma moto, furo qualquer sinal vermelho. Quando um pedinte se aproxima, subo o vidro mesmo. Chame de pré-julgamento, eu chamo de instinto de sobrevivência.
Também acho que playboy malhadinho é ignorante em todos os sentidos da palavra, que baiano é preguiçoso e que boa parte das mulheres mais estúpidas e desprovidas de intelecto está loira (normalmente, fruto de pintura). Não posso fazer muita coisa, é o que penso! Diferente de juízos de supremacia de raças ou credos, isso não me foi instruído, herdado, entregue de bandeja para que eu apenas acredite. É uma questão estatística, com base nas evidências que vão se mostrando no dia a dia e, quando se menos espera, generalizamos.
Eu não digo que é certo, apenas luto pelo direito de poder crer em algo tão rápido quanto julgue necessário. É assim que fazem com tantos magricelos, gordos, dentuços, orelhudos e usuários de óculos fundo de garrafa. A diferença é que a lei não olha para estes com o mesmo teor de proteção que confere a outras minorias.
A verdade é que vivemos em uma sociedade cheia de ‘não me toques’. Não basta você evitar uma briga entre crianças, tem que repreendê-las, dizendo que toda brincadeira é bullying (o que nem existia na minha infância). Não basta você aceitar e respeitar os gays, você tem que parar de falar ‘homossexual’, que, um dia, alguém decidiu que era ofensivo, e passar a falar ‘homoafetivo’. Não basta você aprovar um Dia da Consciência Negra, do Orgulho Negro, do 100% Negro, é preciso também cercear as manifestações do mesmo gênero. Não se pode ter Orgulho Branco, Amarelo... no máximo, Índio.
A ideia é atingir o público mais ferrenho, mais inflexível, obrigá-los a aceitar o diferente. O efeito, no entanto, acaba sendo naqueles que já entenderam que os tempos são outros e as diferenças, não relevantes. Acaba gerando um medo. Tem gente que não diz “Ele é gay” ou “Ela é uma mulher negra”. Opta por termos supostamente mais brandos e que acabam sendo de mal gosto: “delicado” ou “moreninha”. A fórmula de tentar incluir, dizendo que todos são iguais, não faz sentido quando o tratamento tem que ser diferente. Devemos nos habituar com os nomes e definições. O que é, é.
Não me leve a mal. Tenho amigos de todas as cores e opções sexuais. Frequento suas casas, me interesso por suas vidas e relação amorosas, tenho consideração. Mas nem sempre foi assim. Já fui menos tolerante por ser mais ignorante, mas não fomos todos? Ainda não usamos de pré-conceitos todos os dias? Não julgamos a loja pela fachada, a torta pela decoração e as pessoas pelas aparências?
Os tempos são outros, continuam mudando e não há quem consiga remar contra a maré. Mas isso não quer dizer que é fácil. Isso não quer dizer que todos vão caminhar de mãos dadas de uma hora para outra. E muito menos quer dizer que silenciar os que te julgam é a forma mais inteligente de obter respeito. Foi assim que os militares fizeram na ditadura, então se você quer silenciar os ignorantes que ainda não sabem que viveriam melhor com menos preconceitos, por que se considera diferente dos torturadores autoritários? Deixe os americanos falarem, os sulistas julgarem, os evangélicos doutrinarem. É direito de todos falar e ouvir o que bem entende.
Eu acredito em um mundo mais justo e igualitário, livre de maiores preconceitos. Mas isso não quer dizer que eu não vou atravessar a rua quando vejo alguém claramente embriagado ou entorpecido, de boné e camisa de torcida organizada vindo em minha direção. Cada um deve trabalhar seus preconceitos com calma, vai mudando aos poucos... Você não mata germes com repressões, gritos, leis ou ataques gratuitos, mas com remédios certeiros, em doses homeopáticas, com o passar dos dias. ‘Coçar’ a área, traz mais desconforto para você do que para ‘ele’. Ame o ignorante gratuitamente, até que ele não tenha outra opção, senão amá-lo de volta.
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