Grande Austeróbilo,
Eu encontrei uma namorada porque sou gordo. Essa, de outra forma, não encontraria. O relacionamento foi fruto de um grande esforço para restaurar uma vida sentimental quase inexistente, mas que está de volta!
Anoréxica em recuperação, minha namorada é do tipo bem magra, daquelas que você tem medo de quebrar em várias partes na hora H e ser enquadrado na Lei Maria da Penha. Mas não poderíamos combinar mais: enquanto a ensino a arte da escolha de massas e chocolates que surtem maiores efeitos circunferenciais, ela me passa as mais diversas manobras de como atingir a garganta e provocar o estômago, mesmo em situações adversas.
Com ela, posso ir a todos os lugares. Nunca recebo aqueles olhares de reprovação de quando nos sentamos à mesa com vontade. Ela até admira minha busca por saciedade. Apenas reprova quando permaneço mais de dez minutos sentado na mesa após as refeições.
É tão bom guiá-la pelo caminho da ‘boa vida’. Vê-la colocar a comida sem tocar os lábios ou inventar mil desculpas para sair da mesa quando termina. Entre risos, eu a explico que sorvete tem que ter calda de chocolate e paçoca em cima, podendo ter batata frita ao lado. Ela, quer mastigar a batata 83 vezes e a deixar parada na boca, por quarenta segundos, corta em 60% as calorias ingeridas! A paixão não tardaria a nos encontrar.
Mas tardou! Demais até. Sair pelas ruas da cidade, nos bares mais badalados ou em festas de amigos, não surte o mesmo efeito em mortais e em gordos. Nós não impressionamos pela primeira imagem, não deixamos ninguém com calor, por nossa camisa semi-aberta, ou, úmida, depois de perguntarmos a hora e encostarmos o corpo ao passar.
Não. Gordos são como nerds, reclusos em suas espeficidades. Investem naquilo que é bom, almejando encontrar alguém que admire homens justamente com aquelas habilidades! Você os encontra aos montes: Fãs de Guerra nas Estrelas, Estudantes de Robótica, Gênios da Computação... As duas facções se misturam.
Por isso, fiz o que toda pessoa no alto de sua simpatia e caráter extrovertido faria para cultivar novas amizades e impressionar: entrei em um bate-papo virtual. Com o incrível recurso de sites de relacionamentos, você consegue tudo sobre a pessoa, apenas sabendo o nome e de onde fala (praticamente as primeiras perguntas). Você entra na página, vê a foto, observa as comunidades e programa exatamente o que dizer durante a conversa! Receita infalível de psicopata social!
A simpatia foi imediata. Estávamos em comunidades semelhantes: ‘Como eu queria um Ovomaltine’, ‘Só mais um pouquinho?’ e ‘Semana que vem, mudo de vida!’. Claro que por motivos opostos.
Desprovidos das condições normais de ‘temperatura e pressão’, após trocarmos fotos, fizemos aquele balanço de projeção, típicos de Economia. Ela me imaginando depois de alguns meses ao seu lado (perdendo metade ‘de mim), e eu a imaginando ganhando corpo, para cobrir os ossos, ressaltando seu belo rosto. Ficamos naquele impasse de investimento de médio prazo e decidimos que, por um novo ‘Brad e Angelina’, valia a pena o risco.
As vezes fico com a impressão de que esses textos são reais, de tão bem escritos...só impressão...
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