quinta-feira, 7 de julho de 2011

Lugar de gordo é assistindo reality show, não participando de um

Grande Austeróbilo,
Nunca sou comparado ao William Bonner porque sou gordo. Eu sempre fui o Jô Soares. A lua sempre me disse. Todo jornalista com potencial vai herdar uma bancada no nacional da Globo, um dia. A fonte, composta por familiares e vizinhos ignorantes, é inquestionável. Então só me restava duas opções mesmo.

Nada contra Jô. Nem de longe. Cresci achando Jô o máximo e, hoje, no mínimo tenho alguém para culpar pela influência exercida sobre mim no que diz respeito ao meu crescimento (para os lados). Simpático e com pinta de intelectual, ninguém quer saber quanto Jô pesa ou com quem ele anda. A discussão de qualquer bar é se ele é hétero ou por quanto tempo ele ainda segura a onda contra a caduquice.

Os gordos famosos acabam sendo simplesmente famosos, sabe? Ou pelo menos se convencem disso. Faustão, por exemplo, narra as videocassetadas com a criatividade de uma ‘baleia saltitante’ toda vez que um gordinho cai, com a inocência de quem nunca viu um espelho...

Outro dia, no incrível quadro “Humilhe-se durante meio minuto” foi a vez de uma jovem que, no alto de seus 140 kg, fazia a coreografia de um grupo americano de mulheres deliciosas. Ela ainda se arriscou no passo da foca no chão e fez cara de sexy, sob aplausos regados a gargalhadas, de um público hipócrita, que se divertiu, na verdade, observando a roupa curta que revelava as várias ‘dobras’ da garota.

Ganhou, claro! Quinze mil reais, um trauma para o resto da vida e vários vídeos campeões de deboches no youtube. Isso e ainda o comentário do Sr. Silva, meio com pena, meio preocupado que a mulher enfartasse no palco dele por ter dançado trinta segundos! Fiquei revoltado. Desliguei a TV. Fui debochar no youtube.

A questão não é só no Brasil, verdade. Nunca vemos uma nova estrela gorda nos cinemas ou na música, por exemplo. Pelo contrário, vemos tormentos culturais produzidos pela mídia, como uma Britney Spears sendo chamada de gorda por seus cinco quilos a mais. Como se sente uma pessoa que parece ter engolido duas Britneys? Se aquela era uma pessoa gorda, temos que rever as definições. Obeso abrangeria bilhões de pessoas e todas, dentro de pouco tempo, estariam fazendo pontes-safenas. Não poderiam ter lançado uma nova estrela gordinha para encarnar a jornalista que se divide entre dois amores, em Bridget Jones? Nããão! Gorda não pega nem um! Quem diria dois? Nããão. Eles tinham era que pagar mais de dez milhões para Renée Zellweger engordar quinze quilos para fazer o filme. Porque o problema não é estar gorda, é ter a essência de gorda. Isso, sim, é inadmissível. Aos gordos, caminhoneiros e domésticas.

Meu sonho é ver um gordo ganhando o Big Brother! E por ganhar, não entenda levar o prêmio. Por ganhar, você entenda entrar na casa. Isso já seria uma vitória. Na casa de veraneio mais observada do país, pode ver, não tem uma sorveteria ou bomboniere, mas aparelho de ginástica, não falta! Até nisso a coisa é mais ‘pesada’ para os gordos. Nem nas cotas das minorias nós entramos. Não passamos nem pela metódica matemática do reality show. E naquela velha checklist, pouco antes de começar o programa:

- Casa de vidro?
- Confere.
- Câmeras indiscretas no banheiro?
- Confere.
- Três gays e meio?
- Confere.
- Dois negros?
- Confere.
- Um velho com cara de pobre?
- Confere... Senhor, novamente não pusemos nenhum gordo na casa...
- A lei não nos obriga a colocar gordos na casa, estagiário. Não há cotas para gordos!
- Mas o gordo é uma grande raça da população, senhor...
- Gordos ou sexo?
- ...
- ...
- Edredons maliciosos... Confere...

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