Uma atleta quase sem forças olha o relógio. E eu grito com a TV, mandando que tenha forças. "Vai, vai", batendo as mãos já sem unhas. Choro, como uma menina pequena, ao vê-la aplaudida num pódio que, talvez, ela só tivesse em sonhos; Com o coração nas mãos, vejo a correria de crianças a decidir seus futuros buscando nomes em listas nas paredes de seus futuros. Perco um pouco dos cabelos em cada berro até então contido pelo estômago de suas ansiedades; Hipnotizado, desabo ao ver o abraço de dois seres que não se vêem há meses, com malas ainda nas mãos, num saguão de aeroporto qualquer. A saudade a arrebentar-lhes os lábios; Bêbado, brindo pela vigésima vez ao novo emprego de quem já não se julgava capaz ou necessário; Rasgo as mãos em costas largas e frágeis ao acompanhar a abertura de um exame que diz não ser mais necessário continuar um daqueles sofridos tratamentos em que se morre aos poucos apenas por resistir; Abençoo, de todo o peito, o menino que se aninha nos braços recém-descobertos daquela que, até então, julgava conhecer por dentro e por inteiro...
Eu quero a felicidade dos outros. Não para mim. Nem cópia, nem roubo. Mas soube, enfim, que o gozo é mais gostoso quando o prazer escorre pelos olhos alheios; que o riso vale menos quando se solta do que quando se provoca; que toda a torcida depositada, gritada e mastigada por entre os dedos faz parte da vitória; que se contribui com exemplos, mas que é com cuidado que se protege presentes e futuros; que se quer felicidade também por egoísmo, para vibrar como se cada alegria fosse, também, sua, cada sentimento, de você fizesse parte...
Talvez seja por isso que o pai esconda as lágrimas ao entregar a mão da filha; que a mãe verta torrencialmente por, nos pupilos, assistir a sonhos realizados. Talvez seja por isso, que já tenha visto abraços mais apertados em amigos que se fizeram sangue que em parentes de convívio diário; Que já tenha visto beijos mais apaixonados em estações de desembarque que em altares de igrejas; Que já tenha sentido mais compaixão num repartir de pão na rua, que nas mãos que entregam doações; Que tenha testemunhado mais apoio em olhares que nos tapinhas das costas...
Eu quero a interjeição admirada do pirralho que achou algo incrível. Quero a tapa animada da menina que comemora. Quero ecoar o grito do vencedor, satisfazer a fome de quem nem pede, reverenciar o esforço de uma vida, gritar um "puta que pariu" coletivo a contemplar uma nova chance. Quero ajudar a balançar a rede de quem descansa, fazer o drink e o almoço de quem descobre um novo sabor, mostrar o mundo que nem se conhece e ter a chance de garantir que alguém abra asas e voe na certeza de que há quem a segure. Porque ao lado da felicidade, não mora decepção. Porque, como Jobim já dizia, "é impossível ser feliz sozinho"... Ou só rindo, em todo e qualquer tom...
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