Eram dois amigos jantando em um restaurante, como qualquer dia ao acaso. Enchiam a cara com o whisky de rótulo verde, sem importar-se com preços. O jantar, lagostas e iguarias tailandesas, já havia sido acompanhado pelo vinho mais caro. Não estavam ali pela comida. Riram, ao lembrar-se de cada momento que tinham enfrentado juntos - pelos últimos o quê? dez anos? -. Brindavam, fazendo planos mirabolantes para as próximas semanas. Pular de bungee jump, saltar de asa delta, comprar um Aston Martin - usado, claro -, fazer sexo com três mulheres ao mesmo tempo - cada uma com uma cor de cabelo diferente - e fazer uma grande viagem de moto conhecendo, pelo menos, cinco estados. Por enquanto, seria o suficiente. Estranhou, quando, sem pedir, lhe serviram a sobremesa.
"Mas aqui não servem cartola!".
"Hoje servem", ouviu em resposta.
O doce de banana assada com canela e açúcar era uma herança gastronômica que havia herdado do falecido pai. Isso e a propensão para desenvolver o câncer em terceiro estágio com o qual tinha que conviver. Por pouco tempo, era verdade. Encarou o prato como quem enxerga em cada monte de açúcar, histórias engraçadas que em nada tinham a ver com o prenúncio de uma despedida. Olhou o rosto do amigo, que se esforçava para manter um sorriso fingido nos lábios. Praticamente o obrigara a estar nessa situação. Sentia-se mal por estar doente.