sábado, 7 de maio de 2011

Para alguns, consideração se retribui com cifrão $

No circuito comercial, nada mais interessa que uma data em que se possa demonstrar afeição por pessoas importantes em nossas vidas. E, claro, não demonstramos nossa gratidão ou sentimentos com olhares, gestos ou palavras, mas com dinheiro. O dia das mães talvez seja uma das datas mais apelativas de nosso calendário. Porque você pode até se esconder do carnaval e ser bruto ou ateu o suficiente para ignorar o Natal, mas o mínimo que você fez na vida foi ter nascido de um bendito útero!
Somos doutrinados desde a infância a não esquecer o velho presentinho. Em geral são as professoras que passam adiante a obrigação moral da data de forma a não encontrar espaço para ressalvas. Muitas, claro, também são mães. Talvez por isso o companheirismo a quem almeja pratarias e itens do vestuário.

Muitas são as teorias que remontam à origem do Dia das Mães. Dizem que na Grécia Antiga, o primeiro dia da primavera era destinado à homenagem de Rhea, mãe de Zeus. Outros são mais modestos e megalomaníacos e dizem que o dia nasceu da depressão infinita de uma americana conhecida como Anna Jarvis, por ter perdido a mãe. Ela, por sinal, teria sido a responsável pela grande idéia de limpar os bolsos dos filhos de todo o mundo, ainda que tenha começado ofertando cravos brancos às mães da própria vizinhança. Em alguns anos, os Estados americanos começaram a instituir a data, que se tornou oficial em 1914, sendo, obviamente, copiados pelos demais países.

 A partir de então, o inferno familiar se instaurou no mês de maio. Como não desconfiar do telefonema, quase que sem querer, de sua mãe no meio da noite, no final de abril, apenas para saber como você está? E as diretas? “Tão lindo aquele vestido, não é?” ou “Estou precisando tanto de uma batedeira nova”, ainda que você saiba que não há muito que ‘bater’ no cotidiano dela...

O Dia das mães é o primeiro suspiro do novo salário mínimo. Aquilo que você compra no cartão de crédito para pagar já com o reajuste mínimo. No mês seguinte, novo golpe. Dia do Namorados, quando você se convence que de nada adiantou o aumento que recebeu.

O dia 12 de junho é a data mais romântica de nosso calendário. Dia dos Namorados ou, em alguns lugares, Dia de São Valentim, tem diversas conotações históricas, sexuais, poéticas, sexuais, religiosas e, claro, sexuais. A data, no Brasil, remonta à véspera do Dia de Santo Antônio, o santo casamenteiro, que figura meio que como o nosso Valentim nordestino. A história do valente, em si, chama bastante a atenção. Emociona. Quase faz chorar. “Valentim que se lasque, quanto vai querer?”, diz o comerciante.

Dizem que durante o reinado de Caldeus II, em Roma, o tirano proibiu o casamento da ‘galerosa’. A versão oficial é que o imperador queria construir um grande exército e a construção de famílias desencorajava o alistamento dos jovens. A fofoca dos bastidores aponta que, à noite, ‘Caldinha’ queria fazer homenagem a Baco com os militares ‘ressecados’ pela escassez de esposas.

Nesse meio tempo, o bispo Valentim realizava casamentos religiosos daqueles que ansiavam experimentar as maravilhas do doce amor (entenda-se tesão), mas que tinham medo do fogo do inferno (argumento recorrente da época). O cara era mais popular do que seria Marcelo Rossi distribuindo bala na Rocinha. Acabou descoberto. Foi para a cadeia e condenado à morte. Afinal, ninguém podia comprometer o harém da toda poderosa!

Rege a lenda que, quando ele ainda estava na prisão, a filha do carcereiro, Assíria, que era cega, conseguiu, com a ajuda do pai, ficar visitando Valentim. Na prisão, se apaixonaram (sei...). Por conta desse amor (e com toda a ação mágica que um pênis poderia exercer), a mulher voltou a enxergar. Até hoje, a ciência, cética, tenta provar que, na verdade, era o ‘queijo’ que atrapalhava as pálpebras da ‘moça’. O ‘milagre’ permaneceu à surdina, até o dia 14 de fevereiro, quando o dono do ‘bisturi mágico’ foi decapitado. Desde então, repete-se o costume do eterno enamorado: cartões de amor.

Hoje em dia, cerca de um bilhão de cartões de amor circulam por ano nas datas que remetem ao Dia dos Namorados. A data figura entre os dias mais lucrativos do ano. Ao todo, quase 80% das compras são realizadas por mulheres, quer por gosto, quer por ressentimento, quer por ingenuidade. O que leva a crer que a picadura do inseto Valentim conquistou mais que Assíria, mas o mundo inteiro, com exceção dos baianos, óbvio.

Se tiver uma data que mereça ser comemorada, essa é do Dia dos Namorados. Nada melhor que alguém com quem dividir suas conquistas e frustrações. Nada mais engraçado que bancar crianças falando com vozes de bebê e fazendo cafuné atrás da orelha. Nada mais gostoso que ter alguém para dar boa noite e que você sabe que acorda pensando em você. Nada mais construtivo que desenvolver em bases sólidas um sentimento compartilhado que só trará frutos. Nada mais barato que ter uma parceira fixa sem precisar pagar um tostão no pré ou pós-coito.
No Dia dos Namorados todo o mundo fica mais feliz. Os restaurantes ficam mais felizes. Os motéis ficam mais felizes. As lojinhas ficam mais felizes. Apenas os plantonistas de hospitais que recebem as tentativas de suicídio dos solteiros é que não devem ficar tão felizes. Mas ainda conseguem uma gracinha entre um despacho e outro por meio do celular.

Eu confesso que tenho a deplorável mania de terminar meus relacionamentos nos últimos de dias de maio. Dessa forma, afasto duas possibilidades. A primeira é de a mulher querer casar (mês das noivas, sabe como é). A segunda, de torrar meu suado dinheiro em algo que muito provavelmente ela iria trocar ou mesmo não gostar. O caso é simples. Evita-se dor de cabeça. E sobra mais dotação orçamentária destinada à confraternização com antigos amigos.

A investida vem com um bônus: São João solteiro. Daí é só viajar à Caruaru ou Campina Grande e aproveitar o intervalo. Quando chega São Pedro, amigo Pedro das chuvas contínuas, bate aquele aperto, um friozinho. Aí chega a hora de retornar as ligações ora ignoradas.

 “...”
“...”
“É você?”
“Sim.”
“Sinto sua falta.”
“Foi você que quis assim...”
“Eu nunca quis assim. Eu não sabia o que queria.”
“Nunca pude...”
“Não é você. Sou eu. O problema estava comigo, eu admito.”
“Mas...”
“Você ainda me ama?”
“As coisas não funcionam assim...”
“Ama?”
“...”
“Então... Como a gente pode enganar nosso coração assim?”
“É fácil para você falar...”
“Claro que é fácil... É bom estar com você. É bom ter alguém para dividir as conquistas e derrotas”
“É...”
“E sei que você gosta quando eu cheiro o seu cangote, falo manso ao seu ouvido que te quero”
“...”
“Tudo é mais gostoso, mais construtivo, mais barato”
“Barato?”
“Tudo é ‘mó’ barato. A vida é mais bonita, olhando nos teus olhos...”
“Vem aqui”
“’Tô’ aqui na frente”

Um comentário:

  1. Ed. bom texto so me pintou uma duvida??? o texto não era sobre a consumimos do dia das mães e terminou com uma cena de reconquista do dia dos namorado (que por sinal é uma data sem vergonha eu concordo...
    Abraços
    Ádria
    http://loucurasempretoeroxo.blogspot.com

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